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segunda-feira, setembro 24, 2012

TECIDOS EPITELIAIS

RESUMO DE HISTOLOGIA


Maximiliano Mendes


A Histologia é a disciplina que estuda os tecidos dos organismos multicelulares. É um campo de estudos importante, pois, por exemplo, é importante saber como é o aspecto de um tecido sadio e o de um tecido afligido por algum tipo de doença, com fins de diagnóstico, como se faz nos estudos de patologia. Outro exemplo é o campo da engenharia de tecidos, no qual se busca desenvolver tecidos de forma artificial.

Tecidos: conjunto de células em geral semelhantes na forma e função. Constituem os órgãos.

Nesse resumo veremos apenas os tecidos dos animais, com foco na espécie humana, originados a partir dos folhetos germinativos (endoderma, ectoderma e mesoderma), os tecidos embrionários que dão origem aos tecidos adultos:

Tecido
Aspecto das Células
Matriz Extracelular
Principais Funções
Nervoso
Têm longos prolongamentos
Nenhuma
Transmissão de impulsos nervosos
Epitelial
Células justapostas
Pouca
Revestimento da superfície ou de cavidades do corpo, secreção.
Muscular
Células alongadas e contráteis
Quantidade moderada
Movimento
Conjuntivo
Vários tipos de células fixas e migratórias
Abundante
Apoio, preenchimento, conexões, proteção...



Os Tecidos epiteliais:


Os tecidos epiteliais são os que têm como função primordial o revestimento de superfícies. Dependendo de sua localização, ou seja, de qual superfície está revestindo, o tecido epitelial pode exercer outras funções. Como exemplos:

  • Revestir superfícies corporais, como a epiderme, que recobre a pele.
  • Absorção, como o epitélio de revestimento interno do aparelho digestório.
  • Secreção, como as glândulas (sudoríparas, sebáceas e etc.).
  • Proteção. A epiderme funciona como uma barreira que impede a entrada de microrganismos patogênicos no organismo.
  • Movimentação de partículas, como os epitélios ciliados do aparelho respiratório, que eliminam partículas de sujeira e o epitélio ciliado das tubas uterinas, que movimenta o ovócito II\zigoto\embrião no sentido do útero.

De forma geral, os epitélios possuem células firmemente unidas umas às outras e pouca substância intercelular (que está entre as células ou extracelular), a chamada matriz extracelular, produzida pelas próprias células do tecido e que consiste em uma rede de macromoléculas (como proteínas e polissacarídios). Também é importante destacar que logo abaixo de um epitélio, normalmente há uma camada de fibras de proteínas, a lâmina basal (integrante da matriz extracelular) e, abaixo dela, um tecido conjuntivo.

Tipos:

Há dois tipos básicos de tecidos epiteliais:

  • Epitélios de revestimento: revestem superfícies e podem exercer outras funções.
  • Epitélios glandulares: são originados a partir dos epitélios de revestimento e secretam substâncias.

Epitélios de revestimento:

A maior parte do que será visto nesse resumo se refere aos epitélios de revestimento, que podem ser classificados das seguintes maneiras:


Quanto à forma das células:

  • Pavimentoso: células achatadas.
  • Cúbico: células com formato de cubo.
  • Prismático: células alongadas com formato semelhante ao de um prisma.

Quanto ao número de camadas celulares:

  • Simples ou uniestratificados: possuem apenas um estrato ou camada celular. Normalmente revestem superfícies que têm funções relacionadas à absorção de substâncias. Exemplos: epitélio de revestimento interno do intestino delgado, capilares sanguíneos e alvéolos pulmonares.
  • Estratificados: possuem várias camadas celulares. São os epitélios presentes em locais muito sujeitos às forças de atrito, como a epiderme da pele.
  • Pseudo-estratificados: possuem apenas uma camada de células, mas os núcleos dessas células podem ser encontrados em diferentes alturas, dando a falsa impressão de que se trata de um epitélio estratificado.

Vejamos alguns exemplos de tecidos epiteliais para exemplificar a classificação:


Fonte da imagem: Junqueira & Carneiro. 2004.

  • Simples pavimentoso: uma camada de células pavimentosas. Ocorrem em locais que não necessitam de proteção mecânica, pois estão submetidos a pouco atrito, e onde há troca de substâncias, como os capilares sanguíneos e os alvéolos pulmonares.
  • Simples cúbico: uma camada de células cúbicas, com invaginações da membrana plasmática na face superior, cuja função é aumentar a área superficial destinada à absorção de substâncias. Ocorre nos túbulos renais, onde há absorção de substâncias úteis presentes na urina (sais, glicose, água e etc.).
  • Simples prismático (ou colunar): uma camada de células prismáticas. Reveste o interior dos órgãos do aparelho digestório, onde há células secretoras de muco e células responsáveis pela absorção de nutrientes. No intestino delgado as células apresentam microvilosidades, prolongamentos da membrana plasmática cujo objetivo é aumentar a área de absorção.
  • Pseudo-estratificado colunar: uma única camada de células com núcleos em alturas diferentes, dando a falsa impressão de que há várias camadas celulares. Presente no aparelho respiratório, no qual algumas de suas células produzem muco, onde se aderem partículas de sujeira, e outras células são ciliadas, cuja função é, graças ao movimento ciliar, transportar as partículas para fora do aparelho respiratório.
  • Epitélio estratificado pavimentoso: formado por várias camadas de células, sendo as mais superficiais achatadas. Ocorre em superfícies sujeitas ao atrito, como a pele e as mucosas oral e vaginal. Nesse tipo de epitélio há uma camada inferior, de células que se multiplicam bastante, e uma camada superior de células com baixa capacidade de multiplicação. Na epiderme, esta camada mais externa é chamada camada córnea, constituída de células mortas e impregnadas de queratina, proteína que tem como função principal impedir a perda de água. A camada de células mais internas e que se multiplicam é chamada de germinativa.

Especializações das membranas das células epiteliais:

Vejamos como exemplo uma célula prismática do epitélio simples prismático do intestino delgado:



  • Microvilosidades: proeminências da membrana celular cuja função é aumentar a área superficial da célula (aumentar a área da superfície de absorção). Outra especialização que também se destina a aumentar a área superficial de absorção são as invaginações da membrana, encontradas, por exemplo, nas células dos túbulos renais.
  • Zônula de oclusão: junção situada nas porções superiores das células cuja função é a de unir firmemente células vizinhas de forma que os nutrientes não venham a se difundir por entre elas, mas sim sejam captados por elas, a fim de permitir um melhor controle do que é absorvido e também a modificação dos nutrientes.
  • Zônula de adesão: cinturão localizado logo abaixo da zônula de oclusão. Tem a função de aderir uma célula à outra firmemente e é constituído de filamentos proteicos como os de actina e miosina.
  • Junção comunicante: são canais proteicos (conexinas) que comunicam o citoplasma de duas células adjacentes.
  • Desmossomos: estruturas que consistem em dois discos ou botões proteicos, um em cada célula, com a função de unir duas células vizinhas. Entre uma célula e a lâmina basal, há os chamados hemidesmossomos, consistindo de apenas um disco do qual partem filamentos proteicos que se associam às proteínas da lâmina basal.

Epitélios glandulares

Epitélios glandulares são aqueles responsáveis por constituir as glândulas, estruturas cuja função principal é a de produzir e eliminar uma mistura de substâncias característica de cada glândula, chamada secreção. As glândulas são formadas a partir dos epitélios de revestimento, como ilustrado a seguir:



As glândulas podem ser classificadas em três tipos:
  • Exócrinas: caso haja um duto que comunica a glândula com o epitélio que a originou. Graças à presença do duto, as secreções são lançadas na superfície desse epitélio. Ex: sudoríparas, salivares, lacrimais, sebáceas e etc.
  • Endócrinas: não apresentam um duto que as comunicam aos epitélios que as produziu, sendo assim, as suas secreções são lançadas em vasos sanguíneos associados. Ex: tireóide, adrenais, hipófise e etc.
  • Mistas ou anfícrinas: apresentam uma porção exócrina e uma porção endócrina. Ex: pâncreas, cuja porção exócrina produz uma secreção contendo enzimas digestórias, o suco pancreático, e a porção endócrina produz os hormônios insulina e glucagon. Normalmente, no ensino médio só se menciona o pâncreas como exemplo de glândula mista, porém, na verdade, vários órgãos também são. Por exemplo, o estômago possui as glândulas gástricas, responsáveis pela secreção do suco gástrico, mas também produz hormônios, como a grelina, que atua na geração da sensação de fome (e a agressividade associada, pois, afinal, um predador tem de caçar).

*A pele

A pele não é um tecido, mas sim um órgão que possui um epitélio (epiderme) e um tecido conjuntivo logo abaixo (a derme). No que diz respeito à sua estrutura, ela possui:

Retirada de: http://belezaonline.com/

  • Epiderme: o epitélio é a camada superficial da pele, constitui uma barreira que impede a entrada de microrganismos. Possui uma camada mais interna de células que se multiplicam bastante (germinativa ou basal) e a sua camada mais externa apresenta células mortas e queratinizadas (córnea). Entre as duas há camadas de transição, como a granulosa e a espinhosa (de fora para dentro, logo abaixo da camada córnea). A epiderme produz glândulas, como as sudoríparas e as sebáceas. É na epiderme que se encontram os melanócitos, células especializadas na produção de melanina, pigmento que protege contra a radiação UV e também tem ação antioxidante (Veja a figura adiante). Um detalhe importante acerca dessas células é o de que, independentemente da cor da pele, o número de melanócitos tende a ser igual na espécie humana, sendo as tonalidades de pele definidas pela quantidade de melanina produzida. As unhas são anexos consistindo de restos de células mortas e queratina, cuja função principal é a de proteger as pontas dos dedos e facilitar o manuseio de objetos.
  • Derme: tecido conjuntivo denso e não-modelado que garante suporte e nutrição à epiderme e é onde se localizam os diversos receptores sensoriais, os folículos pilosos (originados pela epiderme) e os vasos sanguíneos. Os pelos são anexos da pele que consistem de queratina e células epidérmicas mortas, têm a função de atuar como isolamento térmico, dentre outras. Originam-se dos folículos pilosos, que por sua vez se desenvolvem a partir da invaginação de células epidérmicas. Um tecido conjuntivo denso possui muitas fibras de colágeno, se for não-modelado, tem as fibras de colágeno não orientadas paralelamente.
  • Abaixo da derme há a chamada hipoderme ou tela subcutânea, um tecido adiposo (conjuntivo) que atua como isolante térmico e reserva de energia. Não faz parte da pele!
Melanócito. Os pontos pretos representam grânulos de melanina.

Originadas pela epiderme (tecido epitelial de revestimento) e localizadas na derme, podemos destacar as glândulas sudoríparas e as sebáceas:

  • As sudoríparas secretam o suor, uma solução contendo sais e excretas nitrogenados cuja função primordial é refrigerar a superfície corporal. Podem ter um duto que desemboca diretamente na epiderme ou então, no folículo piloso. O odor desagradável que algumas pessoas suadas podem exalar não vem do suor em si, mas sim dos subprodutos liberados por bactérias que habitam a superfície da pele e se alimentam das substâncias liberadas no suor, como os ácidos graxos. 
  • Já as sebáceas produzem o sebo, uma mistura levemente ácida de várias substâncias, como os ácidos graxos, os triglicerídeos, vitamina E, esqualeno, dentre outros... Essa secreção previne a multiplicação exagerada de micro-organismos potencialmente patogênicos, lubrifica a pele e age na manutenção da hidratação da pele. No calor o sebo se mistura ao suor e dificulta a perda de água na forma de um excesso de gotas, no frio, o sebo contém maior concentração de lipídeos e gera uma camada que dificulta a perda de calor. Lubrificar é aplicar em uma superfície algo capaz de diminuir o atrito e manter a integridade. A pele bem lubrificada descama menos, pois as células mortas da camada córnea não se desprendem tão facilmente.


As principais funções da pele são:

  • Proteção: pois age como barreira mecânica e devido ao fato de que as secreções das glândulas sebáceas e sudoríparas contêm substâncias capazes de eliminar microrganismos.
  • Regulação da temperatura corporal: quando a temperatura corporal sobe, os vasos sanguíneos da derme se dilatam de forma a irradiar mais calor para o meio. (Quando a temperatura esfria os vasos se contraem de forma a minimizar esse processo).
  • Função sensorial: devido à presença dos diversos receptores sensoriais. Veja alguns exemplos na imagem a seguir.



No que diz respeito aos cuidados que devemos ter com a pele, devemos buscar mantê-la:
  • Limpa, de forma a evitar a proliferação de microrganismos.
  • Hidratada, para evitar que o ressecamento provoque rachaduras por onde os microrganismos patogênicos podem penetrar.
  • Evitar a exposição excessiva ao sol, para que a radiação UV não venha a queimar a pele e promover o surgimento de tumores. Todavia também é bom lembrar que a exposição moderada ao sol nos períodos do dia nos quais ele está mais distante no horizonte (início da manhã e final da tarde) é importante para que haja a produção da vitamina D, fundamental para que haja a absorção do íon cálcio! A exposição em excesso, no entanto, é capaz de degradar a vitamina B9.

E as acnes? As acnes são lesões inflamatórias na pele originadas a partir do excesso de secreções das glândulas sebáceas, associadas aos pelos, e também de um excesso de células mortas que descamam do folículo piloso. O excesso de secreções e células mortas cria uma espécie de tampa no poro que torna o ambiente propício à proliferação de bactérias e à inflamação. A lesão adquire aquele aspecto inchado e esbranquiçado, ou então, o poro pode se abrir e adquirir coloração escura por conta de a melanina presente no sebo sofrer oxidação. No que diz respeito às causas, ainda não são completamente entendidas, mas acredita-se que o aumento nos níveis hormonais a partir da puberdade e até mesmo o estresse mental (que pode alterar os níveis hormonais), podem estar envolvidos na geração das acnes.


Para terminar, alguns comentários sobre a radiação UV e os filtros solares:

Tipos de radiação UV:
  • UVB (“UVBurn”): é o tipo que efetivamente queima a pele, não adentra muito. A radiação UVB ativa a enzima responsável pela produção da vitamina D.
  • UVA (“UVAdentra”): adentra a pele e pode causar envelhecimento e efeitos danosos em longo prazo.

O número do FPS de um protetor solar indica quanto tempo alguém pode ficar exposto à luz do sol sem se queimar. Como assim? Vejamos um exemplo:

Marcinho é muito branco e cyber-atleta. Para ele, FPS significa first person shooter. Se exposto a luz solar, começa a sofrer queimaduras em aproximadamente cinco minutos. Caso utilize protetor solar cujo FPS é 10 (10 vezes mais proteção), só começará a sofrer queimaduras após 10 x 5 = 50 minutos de exposição ao sol (pelo menos em teoria).

No link a seguir há um vídeo curto resumindo algumas informações sobre a pele:


REFERÊNCIAS

Amabis & Martho. Biologia das Células. Moderna. 2004.
Junqueira & Carneiro. Histologia Básica. 10ª Ed. Guanabara Koogan. 2004.
Sônia Lopes. Bio: Volume Único. 2004.
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1347089/?page=1
http://www.dartmouth.edu/~humananatomy/part_1/chapter_4.html
http://www.acne.org
http://health.howstuffworks.com/skin-care/problems/medical/question754.htm
https://en.wikipedia.org/wiki/Gastric_glands
https://en.wikipedia.org/wiki/Ghrelin
https://en.wikipedia.org/wiki/Sweat_gland
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6773238/
https://www.sciencenewsforstudents.org/article/explainer-bacteria-behind-your-bo
https://en.wikipedia.org/wiki/Sebaceous_gland
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/15930763/