terça-feira, maio 21, 2019

O TRIFOSFATO DE ADENOSINA (ATP) E A ENERGIA


O TRIFOSFATO DE ADENOSINA (ATP) E A ENERGIA

Maximiliano Mendes

Para que possam sobreviver, os sistemas vivos, como as células e os ecossistemas, precisam de uma entrada constante de energia. Podemos definir energia como a capacidade de gerar mudança, rearranjar massa ou realizar trabalho. O trabalho é a movimentação de massa contra forças opositoras. No caso das células, há a realização de trabalho quando ocorrem sínteses anabólicas, movimentos celulares diversos, manutenção e reparo de certos componentes, transporte ativo através da membrana e etc.


O trifosfato de adenosina (ATP) é um nucleotídeo capaz de armazenar e transferir energia potencial química que pode ser utilizada no sentido de permitir a ocorrência de certos fenômenos celulares. É, inclusive, apelidado de “moeda energética”, capaz de “pagar” para que esses fenômenos sejam realizados. Bons exemplos são a contração muscular e o transporte ativo de solutos através da membrana.


O ATP pode ser gerado com o uso da adenosina difosfato (ADP), um fosfato inorgânico (Pi) e a energia liberada em reações de oxidação-redução, que são aquelas nas quais há a transferência de elétrons entre elementos químicos.


Essa energia liberada pode ser utilizada para sintetizar o ATP: ADP + Pi + energia --> ATP.

A energia potencial química é aquela armazenada graças à estrutura da molécula, que se refere à forma como os seus átomos estão organizados e ligados. O ATP armazena esse tipo de energia nas ligações covalentes entre os grupos fosfatos, pois, dentre outros motivos, os grupos fosfatos têm cargas negativas, logo, tendem a se repelir (veja a figura da estrutura do ATP acima).

Assim, a quebra ou hidrólise do ATP em ADP e Pi é favorável e é exergônica, ela libera energia para que outras reações, desfavoráveis e endergônicas possam acontecer.

ATP + H2O --> ADP + Pi
ΔG°′ = −30.5 kJ/mol (ou −7.3 kcal/mol)

O ΔG é a variação na energia livre de Gibbs, que, de forma simplificada, é a energia útil de um sistema disponível para se realizar trabalho. Os valores negativos indicam que a reação de hidrólise do ATP é espontânea e houve a liberação de energia.

É comum que, nas células, haja o acoplamento de uma reação espontânea (como a quebra do ATP) com uma não espontânea, por isso dizemos que o ATP pode atuar como moeda energética, permitindo a ocorrência desses processos e reações.


Um exemplo de como o ATP atua é transferindo um grupo fosfato para alguma máquina proteica e, assim, transferindo energia para que ela possa realizar trabalho ao sofrer mudanças na estrutura terciária (a conformação espacial). É o caso, por exemplo, do transporte ativo:

A imagem mostra um exemplo de como o transporte ativo pode ocorrer:
1: há a transferência de um grupo fosfato e energia do ATP para a bomba proteica e isso faz com que ela sofra mudança de conformação (mudança na estrutura terciária) de maneira que passa a ter afinidade pelo soluto a ser transportado.
2: o soluto se liga em um sítio específico na bomba, ela perde afinidade pelo grupo fosfato ligado e sofre nova mudança de conformação, posicionando o soluto no lado da membrana para onde ele será transportado.
3: o soluto se desliga da bomba e é, enfim, transportado.
4: após o desligamento do soluto, a bomba volta para a conformação inicial, pronta para o próximo transporte.

Há trabalho, pois há movimentação de massa contra forças opositoras (o próprio transporte ativo) e mudança e reorganização da estrutura da bomba proteica.

Outro exemplo que convém conhecer é o da bomba de sódio e potássio:


Referências:

Tymoczco, Berg & Stryer. Biochemistry: a short course. 3rd ed. WH Freeman & Company. 2015.



quinta-feira, maio 16, 2019

AS MITOCÔNDRIAS E OS CLOROPLASTOS: ORGANELAS DO METABOLISMO ENERGÉTICO


As mitocôndrias e os cloroplastos: as organelas do metabolismo energético

Maximiliano Mendes

Os processos do metabolismo energético são os que podem gerar energia potencial química para manter as atividades celulares, ou então, o processo utiliza a energia gerada para sintetizar as substâncias orgânicas que servem de alimento ao organismo, nos processos empregados pelos organismos autótrofos (os que “nutrem a si mesmos”). Em resumo, os processos de destaque são:

Respiração celular aeróbica: processo normalmente exemplificado com a quebra da molécula de glicose, a fim de gerar energia potencial química para manter as atividades celulares. A respiração inicia no citosol e termina no interior das mitocôndrias. Essa respiração utiliza o O2, por isso a designação aeróbica. Há, porém, outra, a respiração anaeróbica, que não emprega o O2.
Fermentação: é um processo anaeróbico que, assim como a respiração, gera energia potencial química para a manutenção das atividades celulares. Ocorre no citosol. Por ser anaeróbico, não requer O2.
Fotossíntese: processo que ocorre nos cloroplastos e utiliza energia luminosa e CO2 (este, como fonte de átomos de carbono) para gerar as substâncias orgânicas que servem de alimento ao organismo. O processo gera energia potencial química que é utilizada nessa síntese de substâncias orgânicas.
Quimiossíntese: similar à fotossíntese, porém, ao invés de utilizar a energia luminosa, emprega a energia liberada em reações de oxidação-redução inorgânicas para efetuar as sínteses. É um processo realizado por organismos procariontes. Um bom exemplo são as bactérias que atuam na fixação do nitrogênio (Nitrosomonas e Nitrobacter).

No âmbito do ensino médio as principais organelas que atuam nesses processos são as mitocôndrias e os cloroplastos. Vejamos agora um resumo breve sobre ambas:

As mitocôndrias:

As mitocôndrias são as organelas onde ocorrem várias das etapas do processo de respiração celular e também é onde é gerada a maior parte da energia que a célula utiliza para manter as suas atividades vitais.
O número de mitocôndrias varia entre os tipos celulares, os eritrócitos dos mamíferos não têm nenhuma (e também perdem os núcleos) ao passo que os hepatócitos e as células musculares podem ter até mais de mil.
São organelas capazes de se multiplicar, dependendo das demandas energéticas. Esse processo depende do retículo endoplasmático.
Estrutura: veja a imagem abaixo:

  
Os cloroplastos:

Os cloroplastos são organelas presentes apenas nos organismos fotossintéticos, como as plantas e as algas. Neles ocorre todo o processo de fotossíntese.
Derivam de outras organelas precursoras, chamadas de proplastídeos. Caso haja luz disponível os proplastídeos se multiplicam e se diferenciam em cloroplastos ou, dependendo da necessidade, em outros plastos. Essas organelas também podem se multiplicar.
Estrutura: veja as imagens a seguir.



A origem das mitocôndrias e dos cloroplastos:

Os pesquisadores apontam que as mitocôndrias e os cloroplastos têm algumas características que os tornam similares aos organismos procariontes: podem se duplicar, têm DNA e ribossomos próprios, sendo que inclusive esses ribossomos são mais semelhantes aos dos procariontes, e outras. Assim, acredita-se que essas organelas tenham origem endossimbiótica, ou seja, são descendentes de organismos procariontes ancestrais que foram fagocitados no passado distante, mas não foram digeridos. Eles permaneceram nas células por conferirem vantagens adaptativas devido ao fato de produzirem energia de maneira eficiente e, no caso dos cloroplastos, geram as substâncias orgânicas que servem de alimento ao organismo. A membrana interna dessas organelas corresponde à membrana do procarionte e a membrana externa, à de um fagossomo. É bom destacar que alguns parasitas, como por exemplo, o Trypanosoma cruzi, causador da doença de Chagas, também são capazes de escapar da degradação após serem fagocitados.


Esquema mostrando a evolução das células eucariontes, no qual se destaca a endossiombiose.

Referências: