segunda-feira, setembro 08, 2014

O CICLO MENSTRUAL

O CICLO MENSTRUAL

Maximiliano Mendes 

A menstruação é a eliminação de sangue e camadas do endométrio caso não ocorra a fertilização e a implantação do embrião. Essa eliminação se dá pela vagina.

O endométrio é uma membrana mucosa que reveste o interior do útero e sofre espessamento para permitir que um embrião possa se implantar nele.

Membranas mucosas são revestimentos constituídos basicamente de um tecido conjuntivo coberto por um tecido epitelial. Essas membranas estão envolvidas nas funções de secreção e absorção e o nome mucosa é devido ao fato de que secretam um mucopolissacarídeo chamado mucina.

O ciclo menstrual é basicamente o ciclo reprodutivo da mulher, no qual o organismo feminino se prepara para a gestação (mas caso isso não ocorra, então ela menstrua). Durante os dias do ciclo ocorrem mudanças hormonais que promovem mudanças fisiológicas nos órgãos do sistema genital e também mudanças de comportamento como a tensão ou síndrome pré-menstrual.

Ao longo do ciclo menstrual, como veremos, o endométrio é espessado e posteriormente é eliminado na menstruação. Quando não se está grávida, não é interessante manter o endométrio espessado por questões energéticas (maior quantidade de células, secreções e vascularização) e também porque ele pode ser mais facilmente contaminado por patógenos. Assim, pode ser que a menstruação tenha a função de eliminar espermatozoides e micro-organismos do útero ajudando a prevenir possíveis infecções.

Como mencionado, caso não haja fertilização e posteriormente um embrião não se implante no endométrio, ocorre a menstruação. No que tange a duração, o ciclo menstrual é o período compreendido entre uma menstruação, dia 01 do ciclo, e o dia anterior a próxima. Para efeitos didáticos, vamos considerar que o ciclo menstrual tem normalmente 28 dias, mas lembre-se de que, no mundo real, essa duração varia.



No sentido reprodutivo, duas das coisas mais importantes que acontecem no ciclo menstrual e serão destacadas aqui são a ovulação e o espessamento do endométrio.

A ovulação é a liberação de um ovócito II por um folículo ovariano, graças à ação dos hormônios FSH e LH. Vamos admitir, para efeitos didáticos, que normalmente a ovulação ocorre no dia 14 de um ciclo menstrual de 28 dias. Para saber qual é o dia da ovulação, é necessário subtrair 14 do número de dias de um ciclo. Em um ciclo de 28 dias, a ovulação ocorre no dia 28 – 14 = 14, já em um ciclo de 30 dias, a ovulação deve ocorrer no dia 30 – 14 = 16.

Os folículos ovarianos são as regiões funcionais dos ovários, nas quais se encontram ovócitos I, estacionados na prófase I da meiose I, revestidos por camadas de células. Esses ovócitos I são gerados durante o terceiro mês de desenvolvimento intrauterino. O ovócito II liberado, estacionado na metáfase II da meiose II, é a célula na qual o espermatozoide irá penetrar, fazendo com que ela termine a meiose II e gere um óvulo (com o espermatozoide dentro) e um corpúsculo polar.

Vejamos agora as funções dos principais hormônios envolvidos no ciclo menstrual.

Hormônios hipofisários:

São hormônios de natureza peptídica produzidos pela hipófise anterior (adeno-hipófise).

a) Hormônio estimulante dos folículos ovarianos (FSHFollicle stimulating hormone): promove o desenvolvimento dos folículos ovarianos no sentido de haver a liberação de um ovócito II. Durante esse desenvolvimento, o ovócito I termina a meiose I, os folículos produzem hormônios (veremos adiante), acumulam líquido, aumentam de tamanho e se aproximam da superfície do ovário.
b) Hormônio luteinizante (LHLuteinizing hormone): promove a dissolução da parede do folículo e, com isso, a liberação de um ovócito II (ovulação). O resultado disso é que o folículo ovariano se torna aquilo que chamamos de corpo amarelo ou corpo lúteo (daí o nome luteinizante).

A ovulação ocorre então, graças à ação combinada desses dois hormônios.

Apesar de o FSH e o LH atuarem em vários folículos, normalmente apenas um deles se desenvolve ao ponto de liberar um ovócito II. Caso haja a liberação e a fertilização de mais de um, podem ser gerados gêmeos dizigóticos.



Hormônios ovarianos (nesse contexto):

São hormônios esteroides (de natureza lipídica).

a) Estrógeno: produzido pelos folículos ovarianos na medida em que se desenvolvem por influência do hormônio FSH. O corpo amarelo também produz estrógenos. Esse hormônio promove o espessamento do endométrio. Detalhe: “estrógeno” é um nome genérico para uma classe de hormônios, o estrógeno específico nesse caso é o estradiol.
b) Progesterona: produzida pelo corpo amarelo (ou corpo lúteo), que é o nome dado ao folículo ovariano após a liberação do ovócito II. Promove a continuidade do espessamento do endométrio, impede que ele descame e também impede que o útero se contraia. A progesterona é o hormônio “pró-gestação” (o nome não significa isso, o prefixo pro é no sentido de inicial, anterior, assim como em "procarionte").

Posteriormente, caso haja gestação, a placenta também produz estrógenos e progesterona.



Na figura abaixo vemos um resumo sobre a ação e os alvos dos quatro principais hormônios envolvidos no ciclo menstrual:



Na figura abaixo são resumidos os principais componentes e eventos relacionados ao ciclo menstrual, considerando um ciclo de 28 dias, com ovulação no 14º dia e no qual não houve fertilização:



A parte mais importante a ser entendida nessa figura é o gráfico onde são mostradas as concentrações dos hormônios durante o ciclo. Na primeira metade do ciclo, note que, na medida em que o FSH e o LH são liberados a concentração de estrógeno sobe, pois os folículos vão se desenvolvendo e produzindo esse hormônio.

Agora se segura aí que vai complicar.  No geral, o estrógeno inibe a liberação de FSH e LH, porém,  Por motivos ainda não completamente entendidos, quando a concentração de estrógeno chega próxima do máximo, note no gráfico que o efeito passa a ser o contrário e ele então promove um aumento rápido na liberação do FSH e do LH, picos na liberação desses hormônios. O pico na liberação de LH faz com que a ovulação ocorra.



Após a ovulação, com o surgimento do corpo amarelo, a concentração de progesterona sobe, e muito, pois o corpo amarelo começa a produzir esse hormônio (continua produzindo estrógeno também). Graças a ação da progesterona a temperatura do organismo sobe cerca de 0,5°C. Correlacionado ao pico na liberação de LH a consistência de um muco produzido por glândulas no colo do útero se torna mais líquida e escorre. Esse muco tem consistência bastante viscosa. Ambas as coisas são bons indícios de que a ovulação aconteceu e isso pode ser usado como contraceptivo ou para auxiliar a mulher a engravidar, informando os melhores momentos para evitar ou consumar o ato da cópula. Após o dia da ovulação, as concentrações de progesterona sobem bastante e isso está torna o muco cervical mais espesso, inclusive capaz de tampar a abertura do colo do útero e impedir a entrada de mais espermatozoides/esperma. 

Na segunda metade do ciclo note que as concentrações de FSH e LH descem após os picos de liberação e isso se deve ao fato de que a combinação progesterona mais estrógeno inibe a liberação desses hormônios (lembre-se do detalhe sobre o estrógeno, concentrações mais altas ainda desses hormônios têm o efeito contrário). Mais próximo do final do ciclo menstrual as concentrações de progesterona e estrógeno caem também, porque o corpo amarelo degenera. Acredita-se que a queda desses hormônios seja o fator responsável pelos sintomas da síndrome pré-menstrual: dores nas articulações, dores de cabeça, insônia, sensibilidade nas mamas e vários outros. Por isso as mulheres ficam com o humor alterado e indispostas.

No final do ciclo menstrual as concentrações de todos os hormônios estão baixas e isso causa a constrição das artérias do endométrio. Por conta disso o endométrio espessado, que estava sendo mantido pela progesterona, rompe, descama e é eliminado com sangue através da vagina: é a menstruação, o primeiro dia de mais um ciclo menstrual.

Observações:

Tempos máximos de viabilidade dos espermatozoides e do ovócito II no organismo feminino (quanto tempo essas células podem permanecer vivas e funcionais):

Espermatozoides: aproximadamente cinco dias.
Ovócitos II: aproximadamente 24 h (pode até durar ~48h).

Período fértil feminino: é o período com a maior probabilidade de ocorrer a fertilização. Pode-se admitir que vai dos dias 11 ao 17 do ciclo, baseado no tempo de viabilidade dos gametas e possíveis alterações no dia da ovulação. Se você mulher começar a menstruar hoje, hoje é o primeiro dia do seu ciclo menstrual.

Ciclos estrais: só os humanos e alguns outros primatas passam por ciclos menstruais. Para a maioria dos outros mamíferos, o ciclo que possuem é o estral, cujas diferenças principais são que, caso não haja fertilização, o endométrio espessado é grandemente reabsorvido pelo útero então os fluxos sanguíneos são reduzidos. Para um bicho no mato isso é muito bom, pois economiza energia e nutrientes, além de não espalhar cheiro de sangue sinalizando que é uma refeição. Além desse aspecto, normalmente os animais de ciclo estral só copulam no período próximo da ovulação, o chamado cio, no qual as fêmeas exalam odores que deixam os machos surtados.


Referências:

Amabis & Martho. Biologia das Células. 3ª Ed. Moderna. 2010.
Campbell, Reece et al. Biologia. 8ª Ed. Artmed. 2010.
Hacker, Gambone & Gobel. Hacker and Moore’s Essentials of Obstetrics and Gynecology. 5th Ed. Elsevier. 2009.
Linhares & Gewandsjnajder. Biologia Hoje. Vol 1. 2ª ed. Ática. 2013.