terça-feira, fevereiro 09, 2021

REINO PROTOCTISTA PARTE 02 - OS PROTOZOÁRIOS

REINO PROTOCTISTA PARTE 02 - OS PROTOZOÁRIOS




 


Protozoário é um termo que significa “animal primordial”. Não são animais, pois não são multicelulares. São seres (comparar com as algas):

 

Eucariontes;

Unicelulares;

Heterótrofos.

 

A imagem abaixo mostra um pouco da diversidade dos protozoários. A classificação antiga desses organismos era baseada no tipo e presença de estrutura locomotora que possuem (cílios, flagelos, pseudópodes ou nenhuma).

 


Diversidade dos protozoários.

 

Podem ser de vida livre, geralmente aquáticos, ou então parasitas. Uma característica marcante deste grupo é o fato de que alguns destes organismos, utilizaremos os ciliados como exemplo, possuírem células bastante complexas, com um micronúcleo e um macronúcleo, e com regiões especializadas, análogas aos órgãos dos seres pluricelulares com tecidos verdadeiros.

 


Paramecium sp. um protozoário ciliado aquático comum, que se locomove por meio de vários cílios localizados em sua superfície. A célula apresenta grande diversidade de organelas.

 

Cílios: diversos prolongamentos citoplasmáticos que permitem a locomoção da célula.

Vacúolo contrátil: É uma estrutura responsável pela osmorregulação e pela excreção. Elimina o excesso de água absorvida pelo protozoário e também pode eliminar excretas. 

Citóstoma: “boca” celular. Abertura por onde entram as partículas alimentares, inclusive bactérias. Os paramécios são filtradores e atraem alimento para o citóstoma utilizando o batimento dos cílios.

Citoprócto: “ânus” celular. Elimina os restos não aproveitados dos alimentos.

Tricocistos – Bolsas com fios enovelados que podem ser disparados em resposta a certos estímulos. Não se sabe as funções exatas dessas estruturas, mas elas podem variar entre os protozoários, sendo usadas para capturar partículas de alimento, defesa e, no caso dos paramécios, talvez tenha a função de ancorar a célula.

Micronúcleo e macronúcleo: aparentemente, o macronúcleo participa das atividades metabólicas em geral e também da reprodução assexuada das células, já o micronúcleo parece participar apenas dos processos reprodutivos, sexuados ou não. Veremos mais adiante.

 

No que diz respeito à reprodução dos protozoários, esta pode ser:

 

Assexuada:

 

Divisão binária.

Divisão múltipla, em que ocorre a multiplicação do núcleo antes da divisão propriamente dita.

 

Sexuada:

 

Fusão de organismos adultos e formação de um zigoto, que por sua vez origina outros indivíduos.

 

Os ciliados, que possuem um macronúcleo e um micronúcleo, podem efetuar o processo de conjugação. O processo é mediado pelos micronúcleos, que se multiplicam e são transferidos para a célula parceira. Ocorre a degeneração do macronúcleo das células, porém, ao término do processo os micronúcleos originam novos macronúcleos. O processo termina por gerar quatro indivíduos diferentes dos dois originais.

 

Esquema do processo de conjugação entre dois paramécios. 1. Células de linhagens compatíveis se encontram e se fundem parcialmente. 2. Os micronúcleos sofrem meiose e geram, cada um, quatro micronúcleos haploides (n). 3. Três desses micronúcleos desintegram e o restante sofre mitose. 4. As duas células trocam de micronúcleo. 5. As células se separam. 6. Os micronúcleos haploides se fundem em cada célula, formando micronúcleos diploides (2n). 7. Ocorrem três mitoses, originando oito micronúcleos. 8. Quatro dos novos micronúcleos se convertem em macronúcleos e os macronúcleos antigos se desintegram. 8. A divisão binária ocorre duas vezes e gera quatro células filhas idênticas. Imagem: Wikipedia.

 

Classificação dos protozoários:

 

A classificação dos protozoários é baseada em características das células, como a flexibilidade da membrana plasmática e as estruturas locomotoras que possuem (as estruturas locomotoras, nas espécies sésseis, são utilizadas para a captura de alimento).

 


Estruturas locomotoras dos protozoários. Imagem: https://biologywise.com/protozoa-classification-characteristics

 

Vejamos alguns grupos importantes:

 

Grupo

Características

Amebozoários

(Amebas)

Célula flexível. Locomovem-se e capturam alimento com o uso dos pseudópodes. As amebas dulcícolas são hipertônicas em relação ao meio e possuem vacúolos contráteis para expulsar o excesso de água. Algumas podem ter mitossomos, organelas derivadas das mitocôndrias, mas que não executam a respiração celular. Algumas formam carapaças chamadas testas. Entamoeba histolytica causa a amebíase.

Actinopoda

(radiolários e heliozoários)

Também apresentam pseudópodes.

Os heliozoários são comuns em águas doces. Alguns apresentam exoesqueleto.

Os radiolários têm um endoesqueleto interno de sílica. Podem se associar de forma simbiótica com algas (zooxantelas – dinoflageladas).

Foraminifera

(foraminíferos)

Também apresentam pseudópodes. Possuem um esqueleto de carbonato de cálcio perfurado que pode formar depósitos calcários chamados vasas, as rochas usadas na construção das pirâmides do Egito são provenientes desses depósitos. São indicadores da presença de petróleo.

Apicomplexa

(esporozoários)

Não possuem estruturas locomotoras.  Apresentam um conjunto de estruturas que constituem um complexo apical, responsável pela penetração do protozoário na célula hospedeira. Têm também um apicoplasto, um plastídeo que perdeu a capacidade fotossintética. Plasmodium sp. causam a malária e Toxoplasma gondii causa a toxoplasmose.

Cinetoplastídeos

(flagelados)

Locomovem-se com o uso de flagelos (nas espécies sésseis, os flagelos servem para a captura de alimentos). Têm uma mitocôndria grande, próxima ao flagelo, com uma dilatação onde se concentra o DNA, chamada cinetoplasto. Há espécies parasitas, como o Trypanosoma cruzi, causador da doença de chagas, Leishmania chagasi, causador da leishmaniose visceral e Leishmania brasiliensis, causador da leishmaniose de pele.

 

Diplomonadidos e Parabasálios

 

Derivam da linhagem que adquiriu apenas as mitocôndrias a partir de endossimbiose primária. Vivem em condições anaeróbicas ou microaerofílicas. Também possuem flagelos.

Os diplomonadidos Têm mitossomos, derivados das mitocôndrias, que agem na maturação de proteínas contendo centros de ferro e enxofre. Há representantes parasitas, como Giardia intestinales, causador da giardíase.

Ao invés dos mitossomos os parabasálios tem outro tipo de organela derivada das mitocôndrias, os hidrogenossomos, capazes de gerar ATP em condições anaeróbias a partir dos piruvatos gerados na glicólise. O processo gera H2. O Trichomonas vaginalis causa a IST chamada tricomoníase. Os Trichonympha sp. vivem como simbiontes nos aparelhos digestórios dos cupins e os auxiliam a digerir a celulose.

Ciliados

(ciliados, como os paramécios)

Locomovem-se com o uso de cílios (nas espécies sésseis, os cílios servem para a captura de alimentos). É o grupo de protozoários com a maior diversidade de espécies. Têm dois núcleos, um macronúcleo e um micronúcleo (este, envolvido no processo de conjugação). Balantidium coli causa a balantidiose.


Algumas doenças causadas pelos protozoários:

 

Antes de vermos as doenças:

 

 

Parasita heteroxeno: necessita de mais de um hospedeiro para completar seu ciclo de vida.

 

Hospedeiro definitivo: é aquele onde ocorre a reprodução sexuada (pode haver também reprodução assexuada).

 

Hospedeiro intermediário: é aquele onde só ocorre reprodução assexuada.

 

Parasita monoxeno: o parasita necessita de apenas um hospedeiro para completar seu ciclo de vida.

 

 

Amebíase: Também chamada disenteria amebiana, é causada pelo protozoário Entamoeba histolytica (ameboide). Adquire-se o protozoário via ingestão de água e alimentos contaminados com cistos (bolsas contendo amebas). As amebas invadem células da parede intestinal, causando diarreias sanguinolentas. Previne-se com medidas de saneamento básico. O tratamento é feito com medicamentos específicos.

 


Esquema mostrando o ciclo de vida de Entamoeba histolytica. Imagem: Wikipedia.

 

Leishmanioses: causadas por protozoários do gênero Leishmania. Podem ser:

 

Visceral, quando o baço e o fígado são atacados. Os sintomas são febres e perda do apetite. Causada pelo Leishmania chagasi.

Tegumentar, também chamada úlcera de Bauru, quando o protozoário ataca a pele. O sintoma principal é o aparecimento de feridas ulcerosas. Causada pelo Leishmania brasiliensis.

 

O protozoário é transmitido pela picada do mosquito palha (gênero Lutzomya). Previne-se combatendo o mosquito (inseticidas, uso de filós, eliminar criadouros – águas paradas). O tratamento é feito com medicamentos contendo o elemento químico Antimônio (Sb).

 


Ciclo de vida de Leishmania sp. Nesse ciclo, considera-se que os mosquitos sejam os hospedeiros intermediários e os mamíferos os hospedeiros definitivos, pois os protozoários na forma de amastigotas podem realizar reprodução sexuada.

 

Doença de Chagas: causada pelo protozoário Trypanossoma cruzi, cujo vetor são insetos hematófagos de hábitos noturnos chamados barbeiros, como o Triatoma infestans. Eles têm esse nome pois picam geralmente no rosto, a parte que fica descoberta quando dormimos. Ao picar a pessoa, o barbeiro elimina fezes contaminadas com o protozoário, pois suga uma quantidade muito grande de sangue. Ao se coçar, devido à reação inflamatória no local da picada, a pessoa acaba por provocar pequenas lesões na pele e é por aí que os protozoários penetram no organismo. Eles se instalam preferencialmente nas células cardíacas. Os sintomas iniciais são febres e cansaço. Previne-se combatendo o inseto vetor com o uso de filós e o vedamento de frestas onde o inseto se esconde, por exemplo. A doença pode ser tratada com medicamentos específicos ainda no início da infecção. Lembre-se: Não é a picada do barbeiro que transmite o protozoário, ele é adquirido a partir das fezes contaminadas, penetrando pelas lesões causadas no ato de coçar!

 

Ciclo de vida simplificado do T. cruzi. O homem é o hospedeiro definitivo. Imagem: chagasfound.org.

 

Malária: causada por protozoários do gênero Plasmodium, transmitidos pela picada das fêmeas dos mosquitos do gênero Anopheles também chamados mosquitos prego (não confundir com o palha, da leishmaniose). Os protozoários infectam inicialmente o fígado e depois infectam e lisam as hemácias em ciclos regulares, de 48 h ou 72 h, dependendo do plasmódio. Os sintomas principais são febres em intervalos regulares de tempo, coincidentes com os eventos de lise das hemácias. O tratamento é feito com o uso de medicamentos capazes de eliminar o protozoário do sangue como o quinino e a artemisina (que infelizmente acabam por selecionar formas resistentes), e a prevenção é feita combatendo-se os mosquitos. É curioso notar que a expiração de indivíduos infectados com os plasmódios atraem fêmeas não infectadas dos mosquitos.

 


Ciclo de vida dos plasmódios. Nesse ciclo o hospedeiro definitivo é o mosquito.

 

Referências:

 

Livros de biologia do ensino médio da Sônia Lopes e Amabis, várias entradas sobre o assunto na Wikipedia e Britannica e nos links das imagens.