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domingo, agosto 26, 2012

Doenças sexualmente transmissíveis


RESUMO SOBRE ALGUMAS DAS PRINCIPAIS ISTs
Maximiliano Mendes

DOENÇAS SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS (ou infecções sexualmente transmissíveis): são aquelas que podem ser adquiridas a partir das relações sexuais, tanto pelo fato de poder haver contato direto entre os órgãos genitais, caso não se utilize preservativos, quanto pela possibilidade de o ato sexual, devido ao atrito, causar lesões nos órgãos genitais, o que por sua vez pode permitir a “troca” de fluídos corporais contaminados. São causadas por agentes como bactérias, vírus, fungos e protozoários capazes de infectar os órgãos genitais (pênis, vagina, útero, tubas uterinas, ovários...), órgãos do sistema urinário como a uretra, e outros, como a faringe, ânus e etc. Nesses últimos casos, as infecções podem ser resultantes da prática do sexo anal e oral (e sabe-se lá o que mais se faz por aí...). Atualmente tem se preferido usar o termo infecção, ao invés de doenças, pois muitas vezes o indivíduo acometido tem o parasita, está infectado e pode transmitir, mas não apresenta os sintomas da doença.

Algumas dessas infecções podem ser transmitidas da mãe para o filho durante a gestação, parto ou amamentação, é a transmissão perinatal. Dá-se o nome de período perinatal àquele compreendido da 20ª–28ª semana de gestação até as quatro primeiras semanas após o nascimento. Também se sabe que a presença de um agente causador de DST no organismo é capaz de aumentar a susceptibilidade a outras, por conta de lesões e inflamações causadas: abrem-se as portas do organismo para a entrada e a saída de outros patógenos.

Outra forma de transmissão é através das transfusões de sangue, caso seja utilizado sangue contaminado no procedimento.

Dados recentes dos Centros de Controle de Doenças dos EUA mostram que lá os índices de novos diagnósticos de pessoas infectadas por DSTs têm aumentado ao longo dos anos. Não existe uma explicação final sobre esses números, mas dentre as possibilidades, acredita-se que as pessoas estejam tendo mais parceiros sexuais, inclusive graças à popularidade dos aplicativos de relacionamentos e, ainda, que muitos indivíduos não têm usado preservativos nas relações: uma pesquisa recente mostrou que, nos Estados Unidos, dentre as pessoas entre os 15 e os 44 anos de idade, só 24 % das mulheres e 34 % dos homens usaram preservativos na última relação sexual. Daí a necessidade de se compreender bem o tema.

Veremos a seguir um resumo breve sobre algumas das doenças sexualmente transmissíveis mais comuns no Brasil.

DOENÇAS CAUSADAS POR BACTÉRIAS:

Linfogranuloma venéreo:

Causador: Chlamydia trachomatis.

Sintomas: alguns deles são a ardência ao urinar, corrimentos, dores nos testículos e no baixo ventre feminino e sangramentos fora da época da menstruação ou durante as relações sexuais (para as mulheres). Os corrimentos vaginais, também chamados de leucorreias, são secreções resultantes da inflamação dos tecidos da vagina. Essa secreção pode vir em grandes quantidades ou apresentar odor forte. Também é possível estar contaminado e não apresentar sintomas, e, assim, transmitir a doença sem saber quando se pratica relações sem preservativos. Já se identificou um caso de elefantíase peniana, causada pela infecção por Chlamydia, mas nem se empolgue, não é no sentido positivo, definitivamente não.

Tratamento: feito com antibióticos específicos, visto que é uma doença causada por bactérias.

Pode haver transmissão perinatal, causando oftalmia neonatal, um tipo de conjuntivite que pode levar a cegueira. Essa doença pode ser prevenida com a aplicação de um colírio na primeira hora após o nascimento.



Gonorreia:

Causador: Neisseria gonorrhoaea.

Sintomas: bastante similares aos sintomas do linfogranuloma venéreo e também pode haver oftalmia neonatal.

Tratamento: feito com antibióticos específicos. É bom destacar que, ao longo do tempo, as populações de micro-organismos acabam adquirindo resistência e os antibióticos se tornam ineficazes. O número de linhagens de N. gonorrhoaea resistentes aos antibióticos mais comumente usados no tratamento tem aumentado nos EUA. Em amostras de laboratório, por exemplo, em 2013, 1% apresentava resistência. Em 2017, 4 % das amostras já eram resistentes.
 
Apesar de não existir uma vacina específica, há dados indicando que a vacina contra a meningite possa conferir certa proteção contra a gonorreia.



*Doença inflamatória pélvica - DIP:

Causador: bactérias, como as da gonorréia e a clamídia. Essas bactérias, às vezes, podem infectar os órgãos genitais internos das mulheres, como os ovários, causando dores e inflamações.

Sintomas: dores nas partes baixas do abdome, dores durante as relações sexuais, dores nas costas, secreções vaginais, febres, fadiga, vômitos e etc.

Sífilis:

Causador: Treponema pallidum

Sintomas: A infecção ocorre em três estágios, sendo que os sintomas se manifestam principalmente nos dois primeiros. Isso pode fazer com que na terceira etapa, que pode ser assintomática, o indivíduo tenha a falsa impressão de que não tem mais a doença. A infecção pode também ser congênita (quando é transmitida das mães para os fetos) e pode causar más-formações. Na primeira etapa surgem feridas nos órgãos genitais e inchaços nos linfonodos (ínguas) da virilha. Também podem surgir feridas na boca. Essas feridas nos órgãos genitais são chamadas de cancros (ou cancros duros), têm formato arredondado e firme, não doem, não ardem, não coçam e delas não vaza pus. Inclusive, a sífilis também pode ser chamada de cancro duro. Posteriormente, na segunda etapa, se a doença não for tratada, podem surgir manchas em várias partes do corpo, como as mãos e pés, e queda de cabelos. Nos estágios mais avançados (terceira etapa), a doença pode causar danos neurológicos, cegueira, demência e, dentre outros problemas graves, até levar à morte. (Há outra IST, chamada de cancro mole ou cavalo, com sintomas diferentes, causada por outra bactéria a Haemophilus ducreyi).

Tratamento: antibióticos.

É bom ressaltar que, de acordo com dados epidemiológicos recentes, o Brasil vem enfrentando uma epidemia de sífilis. Estima-se que os números de casos novos da doença tenham aumentado: entre 2010 e 2018 os casos registrados de sífilis aumentaram em 3600 %, de 2,1 a cada 100 mil indivíduos para 75,8 para cada 100 mil. Preocupa o fato de que muitos desses casos sejam de transmissão congênita. Dentre as causas da epidemia, apontam-se a falta de penicilina disponível para o tratamento, nesse caso, aponta-se a falta de interesse por parte da indústria farmacêutica, por conta de o medicamento ser barato, mas aparentemente esse problema já foi resolvido, a falta de preservativos distribuídos gratuitamente em certos locais e o esgotamento do impacto das campanhas promovendo o uso de preservativos. Muitas vezes também as pessoas focam apenas em prevenir as gestações indesejadas e, por exemplo, caso utilizem as pílulas, não utilizam preservativos nas relações sexuais.



DOENÇAS CAUSADAS POR VÍRUS:

Condiloma acuminado (HPV):

Causador: Papilomavirus humano (HPV). É a DST mais comum do mundo, há mais de 170 tipos de HPV e vários podem infectar os órgãos genitais, a garganta e o ânus. Acredita-se que aproximadamente 50 % dos adultos sexualmente ativos será contaminado por algum tipo de HPV em algum ponto de sua vida. Também é bom notar que as verrugas comuns de pele também são causadas por HPVs.

Sintomas: Muitas vezes, os portadores do vírus não apresentam sintomas ou quaisquer problemas de saúde, e, por isso, nem mesmo sabem que têm a doença. Porém, em 90 % dos casos, acredita-se que o próprio sistema imunitário seja capaz de eliminar o vírus em aproximadamente dois anos.

Alguns dos principais sintomas da infecção, quando presentes, são as verrugas nos órgãos genitais e o câncer de colo de útero. É importante destacar que os tipos de vírus causadores do câncer de colo de útero são distintos daqueles causadores das verrugas. Também é importante notar que essas verrugas podem surgir semanas ou até mesmo meses após a contaminação, ao passo que o câncer pode se desenvolver anos após a contaminação.

Uma complicação grave decorrente do câncer de colo de útero, é que os seus efeitos e sintomas só passam a ser visíveis após um período de tempo considerável, quando o câncer já se encontra em estágio avançado. Por isso é necessário que as mulheres façam exames regulares.

Tratamento: não existe tratamento para se eliminar o vírus (espera-se que o sistema imunitário faça isso), porém, pode se tratar alguns dos sintomas da infecção. Por exemplo, podem-se remover as verrugas (que inclusive podem desaparecer naturalmente) e também é possível diagnosticar o câncer cedo, com testes como o Papanicolau, para que seja mais fácil tratá-lo. O teste de Papanicolau tem o objetivo de detectar alterações celulares no colo uterino que poderão se tornar cânceres caso não sejam tratadas adequadamente.

Atualmente já existem vacinas contra o HPV, que devem ser administradas em mais de uma dose, preferencialmente antes de o indivíduo começar a praticar relações sexuais, sendo que o recomendado é tomar essas vacinas no início da puberdade, por volta dos nove anos de idade. A vacina quadrivalente, disponibilizada pelo SUS protege contra quatro variedades de HPV e é ministrada preferencialmente em três doses.



Herpes genital:

Causador: HSV – Herpes simplex vírus.

Sintomas: bolhas que se rompem e geram feridas nos órgãos genitais. Normalmente essas feridas somem, mas podem reaparecer de tempos em tempos caso o indivíduo seja exposto a algum fator capaz de diminuir sua imunidade (exposição ao sol, esforço exagerado, estresse, ansiedade, uso prolongado de antibióticos e outros).

Tratamento: sem cura definitiva, mas se tenta tratar as feridas.



AIDS – Síndrome da Imunodeficiência Adquirida:

Causador: HIV – Vírus da imunodeficiência humana. Infecta alguns tipos celulares em nosso organismo, como os macrófagos e as células dendríticas, porém, o tipo celular mais importante associado com a infecção pelo HIV é o linfócito T CD4+. Essas células pertencentes ao sistema imunitário atuam coordenando as respostas imunitárias, produzindo substâncias que promovem a ação de outras células imunitárias.

O processo de infecção pelo HIV pode demorar anos, sendo que a fase de AIDS é a final, na qual a quantidade de LTCD4+ chega a menos de 200 por mm3 de sangue, enquanto a quantidade normal, encontrada em um indivíduo saudável, é de 800 – 1200 por mm3 de sangue. Se não há LTCD4+ em quantidades suficientes, não há respostas imunes e o indivíduo fica suscetível às infecções, inclusive as que normalmente não ocorreriam caso o indivíduo não estivesse com a imunidade comprometida, ou que não seriam capazes de causar grandes danos ao organismo: são as chamadas infecções oportunistas.

Sintomas: vários. Além da deficiência do sistema imunitário, há também o inchaço dos nódulos linfáticos e tumores de pele chamados sarcomas de Kaposi. Os nódulos linfáticos são locais onde há várias células do sistema imune que, ao entrarem em contato com os patógenos se multiplicam, podendo provocar o inchaço desses nódulos.

Tratamento: não há cura. Tenta-se controlar a infecção com o uso de coquetéis de drogas antivirais. Existe também a chamada profilaxia pós-exposição, que consiste em tomar um conjunto de medicamentos contra o HIV por 28 dias e o início deve ser em um prazo máximo de 72 h após a suspeita de exposição ao vírus. De qualquer forma: o melhor a fazer é se prevenir, usando preservativos, diminuindo o número de parceiros e até abstendo-se de ter relações. É interessante destacar que de acordo com dados de 2013, 56,6 % dos brasileiros entre 15 e 24 anos utilizam preservativos, ou seja, muitos não estão se prevenindo de maneira adequada.

Alguns indivíduos têm grande resistência contra a infecção pelo HIV, e em resumo, as causas principais podem ser mutações nas proteínas celulares que são reconhecidas pelas proteínas do HIV, impedindo ou dificultando a fase de ligação.



Hepatite B:

Causador: HBV – Vírus da hepatite B, que pode ser encontrado no sangue, leite materno e esperma. Por isso, a hepatite B é considerada uma DST. Basicamente, hepatites são inflamações no fígado, que podem se tornar crônicas e até mesmo levar ao surgimento de cirrose e tumores. Porém, na maioria dos casos os indivíduos acometidos não apresentam sintomas.

Sintomas: febres, vômitos, icterícia (pele e olhos amarelados), urina mais escura e fezes claras.

Tratamento: feito com medicamentos específicos, sendo importante destacar que, durante o período de tratamento o indivíduo não deve consumir bebidas alcoólicas. No que tange à prevenção, há vacina contra o HBV, que deve ser tomada em mais de uma dose.


REFERÊNCIAS:


http://www.cdc.gov/std/hiv/STDFact-STD-HIV.htm
Carter CA & Ehrlich LS. Cell Biology of HIV-1 Infection of Macrophages. Annual Review of Microbiology. Vol. 62. pp: 425 – 443. 2008.
Wu L & KewalRamani VN. Dendritic-cell interactions with HIV: infection and viral dissemination. Nat Rev. Immunol. Vol. 6(11). pp: 859 – 868. 2006.
http://www.mayoclinic.com/health/hiv-aids/DS00005/DSECTION=treatments-and-drugs
http://www.livescience.com/9983-immune-hiv.html
Lopes AD. Revista Veja. Nº 2174. p. 110.
http://www.aids.gov.br/pagina/o-que-sao-hepatites-virais
http://www.aids.gov.br/pagina/hepatite-b
http://www.cdc.gov/hepatitis/HBV/index.htm
http://www.bbc.com/portuguese/brasil-37748006
http://www.bbc.com/portuguese/brasil-39093771
https://super.abril.com.br/saude/a-nova-cara-da-sifilis/
https://www.hindawi.com/journals/jir/2012/925135/ 
https://www.goldjournal.net/article/S0090-4295(02)02078-2/fulltext
https://saude.abril.com.br/medicina/sifilis-epidemia-sintomas-prevencao-tratamento/
https://www.tuasaude.com/vacina-para-hpv/
https://www.cnnbrasil.com.br/saude/ameaca-de-gonorreia-intratavel-pode-ser-combatida-com-vacina-da-meningite-dizem-estudos/

quinta-feira, agosto 02, 2012

O CICLO CELULAR


O CICLO CELULAR

Maximiliano Mendes

O ciclo celular é basicamente o período de vida de uma célula. As células passam a existir no momento em que surgem a partir da divisão de outra, pré-existente, chamada célula mãe ou célula parental. O ciclo termina quando a célula se divide e deixa de existir, gerando duas células filhas.

O ciclo é dividido em duas etapas:

  • Interfase: compreende aproximadamente 95 % do tempo. É o período entre duas divisões celulares, no qual a célula está executando as suas funções normais, inclusive se preparando para a divisão.
  • Divisão celular ou fase M: é o fim do ciclo celular, onde, como mencionado, uma célula mãe se divide e deixa de existir ao mesmo tempo em que gera duas células filhas.


A figura abaixo mostra o ciclo celular resumido de uma célula qualquer contendo dois cromossomos. Durante a interfase houve o crescimento da célula e a duplicação dos cromossomos. Nesse texto utilizaremos a mesma célula hipotética contendo dois cromossomos homólogos (verde claro e verde escuro) em todas as imagens.



Supondo uma célula humana cujo ciclo seja de 24 h, a divisão dura aproximadamente 1 h.

INTERFASE

Nesse período a célula cresce, podendo ficar até com o dobro do tamanho, executa suas funções metabólicas normais e duplica o DNA. Além disso, como mencionado, nesse período ela se prepara para a divisão. A interfase é dividida em três subfases:

  • G1 (Gap 1 – Intervalo 1): antecede a duplicação do DNA. Ocorrem, dentre outras coisas, crescimento em volume e a síntese de RNA e proteínas diversas, requeridas para a subfase seguinte, como as enzimas responsáveis pela replicação do DNA.
  • S (Synthesis – Síntese): há a duplicação do DNA e dos centrossomos. Os centrossomos ou centros organizadores de microtúbulos são organelas não membranosas, constituídas de uma matriz de fibras de proteínas de onde partem microtúbulos (o que é uma matriz? É um lugar “mãetriz”, onde se gera algo). Estão envolvidos no processo de divisão celular, pois formam uma rede de microtúbulos que movimentam os cromossomos, como veremos posteriormente. Geralmente há um por célula, localizado perto do núcleo, e nas células animais os centrossomos possuem um par de centríolos.
  • G2 (Gap 2 – Intervalo 2): antecede  a divisão. Ocorrem o crescimento e a síntese de macromoléculas (como por exemplo: microtúbulos). Os centrossomos começam a migrar e se distanciam um do outro.
  • *G0: caso não precise se dividir no momento ou seja um dos tipos celulares que consideramos que praticamente não se dividem mais, como os neurônios e as células musculares esqueléticas, a célula entra em um estágio quiescente chamado G0 antes de finalizar G1. Se houver a necessidade de a célula se multiplicar, ela pode, do estágio G0, retornar ao G1. Um exemplo são os fibroblastos, localizados na derme da pele. Essas células permanecem em G0, porém, se houver uma lesão na pele, elas passam para o estágio G1 e começam a se multiplicar para reparar a lesão.


Na figura abaixo é feita uma comparação entre uma célula antes e depois da interfase.


É importante destacar que nem sempre ocorre crescimento antes de uma célula se dividir. É o caso, por exemplo, das primeiras divisões que ocorrem durante o desenvolvimento embrionário dos animais, nas células chamadas blastômeros.

DIVISÃO CELULAR (fase M).

Finda a interfase a célula pode se dividir. Damos o nome de mitose ao processo padrão de divisão celular que estudamos no ensino médio. Entretanto, na verdade, mitose é um termo que se refere apenas à divisão do núcleo, ao passo que a divisão celular propriamente dita, a divisão citoplasmática, é chamada citocinese. Por convenção vamos admitir que a mitose seja o processo de divisão celular completo após a interfase, sendo que na interfase, como vimos, uma célula mãe cresce e duplica o seu material genético a fim de gerar, após a mitose, duas células filhas com o mesmo número de cromossomos dela.

Funções da divisão celular:

  • Crescimento de organismos multicelulares: você começou a existir como uma célula (zigoto), atualmente possui trilhões delas (aproximadamente 30 trilhões!).
  • Diferenciação celular, a partir das divisões de células indiferenciadas, que gerarão os vários tipos celulares especializados/diferenciados.
  • Reparação de lesões.
  • Reprodução de organismos unicelulares.


Etapas da mitose: veremos a seguir um resumo dos principais eventos que ocorrem nas quatro fases da mitose. Normalmente, o que interessa mais (por ser mais cobrado) é o que acontece com o DNA e os cromossomos durante todo o processo.

1. Prófase:

  • Ocorre o início da condensação dos cromossomos (graças a proteínas chamadas condensinas). Isso é importante, pois, posteriormente, os cromossomos migrarão para os polos opostos da célula em divisão e caso não estejam bem enrolados e condensados, entrelaçam-se e podem sofrer quebras.
  • A condensação dos cromossomos impede que as enzimas RNA polimerases se liguem aos genes, sendo assim, cessa a síntese de RNA e disso resulta que o nucléolo desaparece. Lembre-se de que o nucléolo é uma massa de ribossomos em processo de formação: ele consiste em rRNAs e proteínas ribossômicas interagindo.
  • Fragmentação da carioteca. As proteínas constituintes da lâmina nuclear (laminas) são fosforiladas, desagregam e o envelope nuclear se fragmenta em diversas vesículas. No caso da mitose que estamos vendo, os cromossomos têm de sair do núcleo, pois vão migrar. Quebrar a carioteca é a forma de tirar os cromossomos de lá.
  • Início da formação do fuso mitótico, que consiste em microtúbulos, fibras proteicas do citoesqueleto que partem dos centrossomos (duplicados na fase S da interfase) e se ligam aos cromossomos. Os centrossomos começaram a migrar para os polos opostos da célula em G2 e continuam durante a prófase.




2. Metáfase:

  • Os cromossomos estão condensados ao máximo e localizados na região mediana da célula (formando a chamada placa metafásica).
  • Os centrossomos continuam migrando para os polos opostos da célula em divisão, de forma que, posteriormente, os microtúbulos que partem deles possam “puxar” os cromossomos para esses polos opostos, correspondentes às células filhas que serão geradas.
    • Os microtúbulos que compõem as fibras do fuso mitótico se ligam aos cinetócoros: complexos proteicos localizados nos centrômeros dos cromossomos duplicados.
  • Espera-se que a mitose só prossiga caso todos os cromossomos estejam devidamente alinhados e ligados às fibras do fuso.





3. Anáfase:

  • As cromátides irmãs se separam e migram para as extremidades opostas da célula em divisão. As cromátides migram, pois são “puxadas” pelos microtúbulos do fuso mitótico ligados aos cinetócoros dos cromossomos. Esses cinetócoros são complexos proteicos que fazem a função de “carros” moleculares e ao percorrerem os microtúbulos, arrastam os cromossomos consigo.






4. Telófase:

  • De forma simplificada, podemos dizer que a telófase é uma prófase ao contrário, pois nessa etapa ocorrem: descondensação cromossômica, reaparecimento dos nucléolos e das cariotecas e a desagregação do fuso mitótico.
  • Também há o início da citocinese, a divisão citoplasmática propriamente dita. Nas células animais, ocorre um estrangulamento na região mediana da célula, promovido por fibras proteicas contráteis de actina e miosina do citoesqueleto.  




Diferenças entre as células animais e vegetais quanto à citocinese, os centrossomos e a mitose:

Animais
Vegetais superiores
Citocinese centrípeta (“para o centro”)
Citocinese centrífuga (“foge do centro”)
Cêntrica
Acêntrica
Astral
Anastral
Vegetais superiores: angiospermas e gimnospermas.
Cêntrica: porque a célula possui centrossomos com centríolos.
Astral: devido à presença de microtúbulos astrais que partem dos centrossomos e possuem extremidades livres, que não se ligam aos cromossomos.

Se até aqui você está conseguindo entender, está indo bem. Não se esqueça de que, pra decorar, terá de exercitar e uma boa forma de se fazer isso é elaborar um esquema explicando todo o processo de divisão celular (um esquema é uma imagem que explica um processo).

REGULAÇÃO DO CICLO CELULAR

Para que haja a passagem de uma subfase para a próxima, tanto na interfase quanto na mitose, é necessário que algumas condições sejam atendidas. Por exemplo, as células têm de ser estimuladas a se dividir por substâncias denominadas fatores de crescimento (nesse caso crescimento significa multiplicação). Também, na maioria das vezes é preciso que tenham atingido um tamanho mínimo e as condições ambientais sejam favoráveis.

Logo, antes de haver a passagem de uma subfase para a seguinte a maquinaria celular efetua checagens em certos momentos, os pontos de checagem. O objetivo é analisar se todos os eventos que deveriam acontecer em uma subfase ocorreram corretamente, de forma a evitar gerar células filhas com erros que podem ser propagados. Por exemplo, caso haja danos no DNA a célula não passa nem de G1 para S e nem de G2 para M. A célula também não termina M caso os cromossomos não se encontrem alinhados corretamente na região mediana durante a metáfase. O principal ponto de checagem é entre G1 e S, tendo em vista o fato de que a duplicação do DNA genômico requer grande quantidade de recursos e energia, então, se houver problemas, é melhor tentar resolver antes.

Na figura abaixo podemos ver alguns dos principais elementos conferidos pelo programa de checagem do ciclo celular (executado por proteínas).



Assim, encontrados erros, problemas ou defeitos, o ciclo celular é barrado para que a maquinaria celular tente resolver os problemas. Se forem resolvidos, o ciclo prossegue, se não, a célula aciona um programa de suicídio, chamado apoptose. E se até a apoptose falhar?

TUMORES

Quando uma célula sofre mutações que a fazem perder a capacidade de regular o seu ciclo celular adequadamente e de acionar o programa de apoptose, pode se tornar naquilo que chamamos de célula transformada. Essas células têm de ser eliminadas pelo sistema imunitário, pois, caso não o sejam, podem se multiplicar de maneira desenfreada e originar um tumor. Tumor é um termo que se refere comumente à uma massa de células transformadas.

Os tumores podem ser:

  • Benignos (“benignos” né... quem ficaria feliz sabendo que tem um?): as células transformadas formam uma massa que permanece restrita ao local de origem. Um bom exemplo são as verrugas de pele, tumores benignos causados por papilomavírus.
  • Malignos: tumor maligno é sinônimo de câncer. Nesse caso, as células transformadas podem migrar para outros locais através da circulação sanguínea e gerar novos tumores, processo chamado metástase.


Tipos de câncer:

  • Sarcomas: as células transformadas têm origem mesodérmica (tecidos musculares e conjuntivos). Sarco significa carne, lembrar que o mesoderma origina os tecidos conjuntivos e os musculares.
  • Carcinomas: as células transformadas têm origem endodérmica (revestimento interno do tubo digestório e estruturas que se formam a partir dele, como o fígado e o pâncreas) e ectodérmica (tecido nervoso e epiderme).


Tipos de genes que podem ser afetados, de forma a causar tumores:

  • Genes supressores de tumor: impedem a progressão do ciclo celular quando ocorrem problemas. Mutações nesses genes podem fazer com que a célula perca a capacidade de barrar a progressão do ciclo celular quando necessário.
  • Proto oncogenes: estimulam as divisões celulares. Mutações nesses genes podem convertê-los em oncogenes e fazer com que a célula seja estimulada a se multiplicar de forma desgovernada. 
Fazendo uma analogia, um oncogene mutado transforma a célula em um carro cujo pedal de freio até pode ser acionado, porém, o pedal do acelerador está sempre pressionado e o carro nunca para de acelerar. Já os genes supressores de tumor mutados transformam as células em carros cujo pedal de freio não funciona. Mesmo que acelere pouco, o carro não freia.

*Lembrando que os oncogenes são as formas mutantes dos proto oncogenes.

Alguns exemplos de oncogenes e genes supressores de tumor:

Gene
Função
Exemplos de cânceres
Tipo de gene
apc
Regula a transcrição de genes alvo.
Polipose adenomatosa familiar.
Supressor de tumor.
bcl2
Envolvido na apoptose. Estimula a angiogênese.
Leucemia e linfomas.
Oncogene.
brca1
Pode estar envolvido no controle do ciclo celular.
Neoplasias nas mamas, ovários, próstata e cólon.
Supressor de tumor.
brca2
Reparo do DNA.
Leucemia e neoplasias nas mamas e pâncreas
Supressor de tumor.
p53
Apoptose. Fator de transcrição.
Neoplasias colorretais. Síndrome de Li-Fraumeni.
Supressor de tumor.
ras
Proteína que se liga ao GTP. Atua em cascatas de transdução de sinais.
Neoplasias pancreáticas, colorretais, mamárias, renais e pulmonares. Leucemia. Melanomas.
Oncogene.
Retirada de: http://www.learner.org/courses/biology/textbook/cancer/cancer_3.html

E como um câncer pode matar?

Ao contrário do que se pode pensar, as células tumorais não perdem as suas funções normais, apenas o controle do ciclo celular. Não é, por exemplo, como no caso de uma doença como a miotonia congênita de Thomsen, na qual um canal iônico de íons cloreto, o CLCN1, não funciona adequadamente, impedindo o transporte adequado. Então, se esse é o caso, como o câncer pode ser uma doença capaz de matar? Depende do caso e da localização dos tumores, alguns exemplos: um tumor no intestino pode bloquear a passagem do bolo alimentar e dificultar a absorção dos nutrientes, tumores nos pulmões podem dificultar as trocas gasosas, causar lesões e infecções, e os tumores nos ossos podem desregular o equilíbrio e as concentrações de cálcio no sangue, gerando hipercalcemia. Esses problemas podem acabar resultando em outros, debilitando ainda mais a saúde do indivíduo.

MEIOSE

Além do processo de mitose, também temos de conferir outro, chamado meiose. Na mitose, vimos que uma célula mãe duplica seu DNA na interfase, divide-se e gera duas células filhas com o mesmo número de cromossomos que ela tinha. A meiose, porém, é um processo que consiste em duas divisões celulares, as meioses I e II. Assim, uma célula mãe diploide inicialmente gera duas células filhas haploides com os cromossomos duplicados (meiose I) e em seguida, as células filhas também se dividem (meiose II) e geram, cada uma, duas células filhas também haploides. Em resumo: na meiose, uma célula mãe diploide irá gerar quatro células filhas haploides. Devido ao fato de poder gerar células haploides esse processo é o responsável pela geração dos gametas (células reprodutivas).

Podemos ver de forma resumida o que ocorre com os cromossomos dentro dos núcleos das células durante o processo de meiose na figura abaixo:


Nem todas as células podem passar tanto pela mitose quanto pela meiose, na imagem acima, para ficar mais fácil comparar os dois processos, estamos considerando que essa célula com dois cromossomos pode passar por ambos. Também é digno ressaltar que as duas células filhas geradas após a meiose I já são haploides, pois apesar de terem os cromossomos duplicados, esses cromossomos não estão presentes em pares, o homólogo de cada um não está presente na mesma célula.

Etapas da meiose:

Basicamente, o processo consiste em duas divisões celulares, chamadas meioses I e II. Cada uma dessas divisões é organizada em etapas semelhantes às da mitose e com os mesmos nomes: prófase I, anáfase I, metáfase I, telófase I (para a meiose I) e depois prófase II, metáfase II, anáfase II e telófase II (para a meiose II). Para não repetir os mesmos eventos da mitose, destacarei somente as etapas que apresentam algum detalhe extra: a prófase I, a anáfase I e a anáfase II.

Prófase I da meiose I: essa etapa é bem longa e nela ocorre um evento muito importante, a permutação ou crossing over. A prófase I é dividida em várias subfases:

  • Leptóteno: ocorre o início da condensação cromossômica.
  • Zigóteno: os cromossomos homólogos começam a se emparelhar, unem-se firmemente uns aos outros em pares, graças à ação de proteínas. O nome do processo de emparelhamento é sinapse cromossômica (para distinguir da sinapse entre neurônios).
  • Paquíteno: os cromossomos estão completamente emparelhados e ocorre o processo de permutação. A permutação consiste em trocas de pedaços entre as cromátides de cromossomos homólogos. Esse mecanismo permite que haja a geração de um número maior de tipos de gametas (em termos de conteúdo cromossômico), o que por sua vez, permite gerar mais diversidade biológica.
  • Diplóteno: os cromossomos homólogos começam a se desemparelhar (separar). A evidência visual de que isso ocorre são os quiasmas, cruzamentos entre as cromátides permutadas.
  • Diacinese: na medida em que os cromossomos continuam a se separar e migrar para a região mediana da célula, os quiasmas vão “deslizando” para as extremidades das cromátides e desaparecem (terminalização dos quiasmas). Nessa etapa também ocorrem a fragmentação da carioteca e o desaparecimento do nucléolo.




Anáfase I: ao contrário do que ocorre com a anáfase da mitose, aqui, os cromossomos homólogos duplicados, e não as cromátides separadas, é que migrarão para os polos opostos da célula em divisão.

Anáfase II: essa etapa é praticamente igual à anáfase da mitose. Ocorre a separação de cromátides irmãs. Para diferenciar a anáfase II da meiose II da anáfase da mitose é preciso contar os números de cromossomos da célula que está se dividindo, para identificar se ela é diploide ou haploide. Na anáfase II vemos migrando a metade do número de cromátides que vemos na anáfase da mitose.

Na figura abaixo podemos ver as diferenças entre as anáfases I e II da meiose. A anáfase da mitose é muito parecida com a anáfase II, mas a diferença está nos números de cromátides que migram (para a nossa célula hipotética: quatro na anáfase da mitose vs. duas na anáfase II). Nas metáfases, perceba que na metáfase I os cromossomos ficam alinhados par de homólogos, acima de par de homólogos, já nas metáfases da mitose e da anáfase II, cada cromossomo duplicado fica alinhado acima do outro.



Para terminar, é bom observar o gráfico abaixo, onde se podem ver as quantidades de DNA em uma célula antes, durante e depois da interfase, mitose e meiose.


Novamente, nem todas as células podem passar tanto pela mitose quanto pela meiose, mas nessa imagem, para ficar mais fácil comparar os dois processos, estamos considerando que essa célula com dois cromossomos pode .

REFERÊNCIAS

Alberts, et al. Molecular Biology of the Cell. 5th ed. Garland Science. 2008.
Amabis & Martho. Biologia das Células. Moderna. 2010.
Freixo. Centrosome biogenesis and number: mechanisms of control - Determination of SAK/PLK4 interactors. Dissertação de Mestrado. Universidade de Lisboa. 2009.

http://www.macroevolution.net/interkinesis.html#.UBk-eGGe6So
https://ghr.nlm.nih.gov/condition/myotonia-congenita
https://www.cancerresearchuk.org/about-cancer/coping/physically/how-can-cancer-kill-you
https://www.nature.com/scitable/topicpage/cell-cycle-control-by-oncogenes-and-tumor-14191459
http://www.learner.org/courses/biology/textbook/cancer/cancer_3.html
http://pathology.jhu.edu/pc/BasicTypes1.php
https://www.healthline.com/health/number-of-cells-in-body