A
MEMBRANA PLASMÁTICA
Maximiliano
Mendes
A membrana plasmática é uma película que circunda a célula e
delimita o seu espaço interno. É possível fazer uma analogia entre a membrana e
os muros de um presídio (um presídio do mundo dos sonhos, mas faça de conta que
isso exista): os muros que cercam uma penitenciária, além de delimitar a área dela
têm portões com as pessoas encarregadas de controlar a entrada e a saída de
outras. Algumas visitas podem entrar em certos momentos, ao passo que os
prisioneiros não podem sair quando querem.
Estrutura
da membrana plasmática:
Sua estrutura consiste de uma bicamada de fosfolipídios. São duas
camadas de fosfolipídios, uma voltada para o interior da célula e a outra voltada
para o meio extracelular. Nessa bicamada também podem ser encontrados outros
tipos de moléculas, como proteínas, glicídios associados às proteínas e aos lipídios e o colesterol, um lipídio do grupo dos esteroides,
que atua na regulagem da fluidez da membrana. É bom destacar que as membranas das
células vegetais apresentam bem menos colesterol que as das animais, elas produzem outros esteroides, chamados fitosteróis.
Esse modelo para explicar a estrutura da membrana é chamado de mosaico fluído. A membrana é dita fluída, pois as moléculas que a constituem podem
se deslocar umas em relação às outras sem perder o contato (a função do
colesterol é regular essa fluidez).
A figura abaixo mostra um fragmento da membrana plasmática de uma célula animal. As estrutura das membranas das organelas das células eucariontes também segue a mesma estrutura básica.
A figura abaixo mostra um fragmento da membrana plasmática de uma célula animal. As estrutura das membranas das organelas das células eucariontes também segue a mesma estrutura básica.
Perceba na imagem as moléculas mais importantes: os fosfolipídios
(vermelhos/alaranjados), o colesterol (amarelo) e as proteínas (azuis).
Funções
da membrana plasmática:
Dentre as funções da membrana, podemos dizer que ela atua no reconhecimento e sinalização celulares, mas, basicamente, as duas funções principais a serem destacadas aqui
são a delimitação do volume celular e o controle do trânsito de substâncias e
íons que entram e saem da célula. Essa segunda é uma função fundamental para
que haja vida, visto que as células mantêm diferenças nas concentrações de
certas substâncias e íons nos meios intra- e extracelulares. A concentração de
aminoácidos, por exemplo, é maior dentro das células de micro-organismos que
vivem no solo do que no próprio solo.
As membranas podem atuar no controle de substâncias que a
atravessam, por serem permeáveis, ou seja, permitem que algo as atravesse. Nesse
caso, substâncias e íons em solução aquosa, os quais chamamos solutos. Porém é bom ter em mente que as membranas não são
permeáveis a tudo, logo, são também chamadas de semipermeáveis (aliás,
dificilmente algo vai ser “permeável” a tudo, só consigo pensar no vácuo e olhe
lá, pois as ondas sonoras não o atravessam...).
Vejamos então os tipos mais comuns de transporte pela membrana
plasmática (semipermeável). Lembre-se de que para os exemplos que serão vistos
devemos considerar que a célula está imersa em meio aquoso.
Transporte
pela membrana:
Dividimos os tipos de transporte em duas modalidades básicas, o
transporte passivo e o transporte ativo.
Antes de prosseguirmos, vejamos alguns termos importantes:
Solutos: substâncias ou íons dissolvidos em um solvente, que
normalmente é a água. Exemplo: solução de água (solvente) com açúcar (soluto).
Gradiente de concentração: dizer que há um gradiente de
concentração entre dois meios, por exemplo, os meios intra- e extracelulares,
significa dizer que há diferença nas concentrações de solutos entre esses dois
meios.
Transporte
passivo: também chamado de difusão. Não requer energia, pois os solutos são
transportados do meio onde se encontram em maior concentração para o meio onde
estão presentes em menor concentração, ou seja, de acordo com o gradiente de
concentração. Essa é a tendência natural para os processos de difusão: que o
transporte continue até que as concentrações de uma determinada substância ou
íon entre os dois meios se igualem. Por isso não requer energia.
Tipos
de transporte passivo:
Difusão
simples: nesse caso, substâncias pequenas e sem carga conseguem atravessar
a bicamada lipídica passando pelo meio dos fosfolipídios. Dois exemplos
práticos para a nossa espécie são (atente para o sentido do transporte, do meio
de maior concentração para o meio de menor concentração):
O2: o oxigênio molecular atravessa a bicamada
fosfolipídica por difusão simples no sentido de entrar nas células. Os motivos são
que, no meio intracelular as concentrações de O2 são menores, pois o
O2 está constantemente sendo consumido pelo processo de respiração
celular. Em contrapartida, no meio extracelular as concentrações são maiores,
tendo em vista o fato de que estamos constantemente inspirando o ar e
absorvendo O2 pelos pulmões.
CO2: atravessa a membrana no sentido contrário ao do O2,
ou seja, tende a sair das células. A razão disso é que o mesmo processo de
respiração celular, que consome o O2, tem como um de seus produtos o
CO2, assim, as concentrações de CO2 intracelulares são
maiores, inclusive porque o processo de expirar o ar elimina o CO2
fazendo com que as concentrações extracelulares de CO2 sejam
menores.
Difusão
facilitada: o transporte se dá com o auxílio de proteínas transportadoras
chamadas permeases. É um processo de difusão que tem de ser facilitado por
essas máquinas proteicas, pois, nesse casos, os solutos transportados ou são íons,
então têm carga, ou não são moléculas suficientemente pequenas para atravessarem a bicamada fosfolipídica diretamente por difusão simples ou então são carregadas.
As permeases podem ser:
Proteínas canais: formam canais que atravessam a membrana
plasmática e permitem a passagem de solutos.
Proteínas carreadoras (ou carregadoras): executam o transporte ao
sofrerem mudanças de conformação, ou seja, sofrem mudanças em sua estrutura
terciária.
Ainda sobre as permeases é importante destacar que elas apresentam
especificidade em relação ao soluto que transportam, de forma similar à
especificidade que os sítios ativos das enzimas têm em relação aos seus
substratos. Observe na figura acima que a proteína carreadora representada
apresenta especificidade apenas em relação ao soluto com formato de elipse,
pois é o único que pode se ligar a ela e ser transportado. O outro, com formato de hexágono, não pode se ligar e ser transportado por essa proteína carreadora por não ter a estrutura complementar à do sítio de ligação na proteína.
Osmose:
nesse tipo de difusão, consideramos o transporte ou a passagem apenas da água,
o solvente, através de uma membrana semipermeável. Lembrando: dizer que a
membrana é semipermeável significa que ela é permeável a algumas substâncias e
a outras, não. Ela permite que algumas substâncias a atravessem e outras não.
Também é certo dizer que a membrana é permeável, pois esse termo não implica
necessariamente ser permeável a tudo.
No caso da osmose, e muito cuidado aqui para não confundir com a
difusão dos solutos, a água (solvente) atravessa a membrana passando do meio
com a menor concentração de solutos para o meio com a maior concentração de
solutos. É o sentido contrário em relação ao sentido da difusão dos solutos,
que atravessam do meio mais concentrado para o menos concentrado e isso é que
costuma causar confusão.
Você pode pensar que a água atravessa a membrana no sentido de
diluir o meio mais concentrado, ou então, apesar de não se poder usar esses
termos, a água passa do meio onde ela está mais “concentrada” (o meio que
apresenta a menor concentração de solutos) para o meio onde ela está menos “concentrada”
(o meio com a maior concentração de solutos). Entretanto, não se usa o termo concentrado
para o solvente, só para os solutos!
No que diz respeito à passagem da água pela membrana, na osmose,
ela pode se dar de duas formas (observe a figura acima):
Difusão simples: pois a água, apesar de ser polar, não é uma
molécula grande e onde há célula há muitas moléculas de água, então é possível
que elas atravessem pelo meio dos fosfolipídios, mesmo esses tendo suas cadeias
hidrofóbicas de ácidos graxos. Mas dessa forma as moléculas de água não
atravessam tão facilmente, para que atravessem mais facilmente, a difusão tem de
ser facilitada.
Difusão facilitada: nesse caso, por permeases do tipo proteína
canal chamadas aquaporinas, que permitem a passagem das moléculas de água nos
dois sentidos, na taxa de até três bilhões de moléculas de água por segundo.
Essa difusão é bem facilitada mesmo não?
Para terminar essa parte de osmose, ainda é necessário saber que quando
se comparam dois meios (ex: intra- e extracelular) cada um dos meios pode ser:
Hipertônico: tem maior concentração de solutos, em relação ao
outro meio que está sendo considerado.
Hipotônico: tem menor concentração de solutos, em relação ao outro
meio que está sendo considerado.
Isotônico: tem concentração de solutos igual a do outro meio que
está sendo considerado.
Na osmose a água passa do meio hipotônico para o meio hipertônico.
Observe na figura abaixo, que representa hemácias em meios hiper-, iso-, e
hipotônicos.
OBS: pode inclusive acontecer de a célula absorver tanta água por
osmose que chega a inchar ao ponto de se romper. No caso das células vegetais, isso não
acontece, pois a parede celular não permite. Também é digno de nota destacar
mais alguns termos chatos para que sejam decorados: célula murcha =
plasmolisada; célula inchada = túrgida.
A tendência dos transportes passivos é que o transporte persista até que as concentrações de solutos se tornem iguais nos dois lados separados pela membrana. Após isso, as quantidades de solutos que saem ou entram passam a ser iguais.
A tendência dos transportes passivos é que o transporte persista até que as concentrações de solutos se tornem iguais nos dois lados separados pela membrana. Após isso, as quantidades de solutos que saem ou entram passam a ser iguais.
Essas foram as modalidades de difusões ou transportes passivos,
vejamos agora o transporte ativo.
Transporte
ativo: requer energia, pois os solutos são transportados do meio que
apresenta a menor concentração para o meio que apresenta a maior concentração
de solutos. O sentido do transporte é o contrário do sentido da difusão, logo,
são transportados contra o gradiente de concentração, o que não é a tendência
natural, por isso esse tipo de transporte requer energia para ocorrer e
mais, requer proteínas transportadoras, que nesse caso não são chamadas
permeases, mas sim, bombas.
Como exemplo de transporte ativo, podemos citar o que é executado pela
bomba de sódio e potássio (também chamada Na+/K+ ATPase).
Essa proteína transporta, ao mesmo tempo, três íons Na+ para fora da
célula e dois íons K+ para dentro.
A energia é fornecida pela transferência de um grupo fosfato do
ATP (trifosfato de adenosina). Para cada vez que a proteína executa o transporte,
um grupo fosfato, ou em outras palavras, energia, é transferido para ela. Em
vários processos celulares que requerem energia para acontecer, essa molécula,
que é um nucleotídeo atua transferindo energia para proteínas. O grupo fosfato transferido promove uma mudança na conformação (estrutura terciária) da proteína e isso a permite realizar o transporte.
Para terminar...
Transporte
em massa: podemos considerar que também requer energia e consiste no
transporte de MUITAS substâncias simultaneamente, por isso se chama transporte em massa. Inclusive é até possível transportar partículas ou micro-organismos
para dentro das células.
Esse tipo de transporte envolve o uso de bolsas de membrana chamadas
vesículas, onde se localiza aquilo que será transportado para fora das
células, ou o que foi internalizado.
Existem duas modalidades básicas de transporte em massa:
Exocitose: transporte de substâncias para fora das células. É por
meio desse tipo de transporte que as células liberam hormônios,
neurotransmissores, enzimas digestórias e etc. para o meio externo.
Endocitose: transporte de substâncias ou partículas para dentro
das células. Existem dois tipos de endocitose:
Fagocitose: ingestão de partículas sólidas ou micro-organismos com
o uso de prolongamentos chamados pseudópodes, que englobam aquilo que a célula
irá internalizar. Algumas células do sistema imunitário conseguem fagocitar e
destruir micro-organismos patogênicos dessa forma. Esses pseudópodes,
dependendo do tipo de célula, também podem ser utilizados para a locomoção, as
amebas, por exemplo, se movem com o uso dos pseudópodes.
Pinocitose: ingestão de substâncias em solução no qual ocorre a invaginação da membrana (uma região da membrana adentra o citoplasma). É um processo que, no nível do ensino médio, parece com a exocitose, só que no sentido contrário.
REFERÊNCIAS:
ALBERTS, B.
et al. Molecular Biology of the Cell. 4th ed. Garland.
2002.
AMABIS & MARTHO. Biologia das Células. Moderna.
2004.
CAMPBEL
& REECE. Biology. 7th Ed. Benjamin-Cummings. 2005.
KOOLMAN
& ROEHM. Color Atlas of Biochemistry. 2nd Ed. Thieme. 2005.
LEHNINGER,
et al. Principles of Biochemistry. 4th Ed. WH Freeman. 2004.
LODISH, H. et
al. Molecular Cell Biology. 5th ed. WH Freeman. 2003.
STRYER, L. et
al. Biochemistry. 4th ed. WH Freeman. 2002.
http://www.vivo.colostate.edu/hbooks/molecules/aquaporins.html
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3927147/
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