O CICLO MENSTRUAL
Maximiliano Mendes
A menstruação é a
eliminação de sangue e camadas do endométrio caso não ocorra a fertilização e a implantação do embrião. Essa eliminação se dá pela vagina.
O endométrio é
uma membrana mucosa que reveste o interior do útero e sofre espessamento para
permitir que um embrião possa se implantar nele.
Membranas mucosas
são revestimentos constituídos basicamente de um tecido conjuntivo coberto por
um tecido epitelial. Essas membranas estão envolvidas nas funções de secreção e
absorção e o nome mucosa é devido ao fato de que secretam um mucopolissacarídeo
chamado mucina.
O ciclo menstrual
é basicamente o ciclo reprodutivo da mulher, no qual o organismo feminino se prepara
para a gestação (mas caso isso não ocorra, então ela menstrua). Durante os dias
do ciclo ocorrem mudanças hormonais que promovem mudanças fisiológicas nos
órgãos do sistema genital e também mudanças de comportamento como a tensão ou síndrome pré-menstrual.
Ao longo do ciclo menstrual, como veremos, o endométrio é
espessado e posteriormente é eliminado na menstruação. Quando não se está
grávida, não é interessante manter o endométrio espessado por questões
energéticas (maior quantidade de células, secreções e vascularização) e também
porque ele pode ser mais facilmente contaminado por patógenos. Assim, pode ser que
a menstruação tenha a função de eliminar espermatozoides e micro-organismos do
útero ajudando a prevenir possíveis infecções.
Como mencionado, caso não haja fertilização e posteriormente
um embrião não se implante no endométrio, ocorre a menstruação. No que tange a
duração, o ciclo menstrual é o período compreendido entre uma menstruação, dia
01 do ciclo, e o dia anterior a próxima. Para efeitos didáticos, vamos
considerar que o ciclo menstrual tem normalmente 28 dias, mas lembre-se de que,
no mundo real, essa duração varia.
No sentido reprodutivo, duas das coisas mais importantes que
acontecem no ciclo menstrual e serão destacadas aqui são a ovulação e o
espessamento do endométrio.
A ovulação é a
liberação de um ovócito II por um folículo ovariano, graças à ação dos
hormônios FSH e LH. Vamos admitir, para efeitos didáticos, que normalmente a
ovulação ocorre no dia 14 de um ciclo menstrual de 28 dias. Para saber qual é o
dia da ovulação, é necessário subtrair 14 do número de dias de um ciclo. Em um
ciclo de 28 dias, a ovulação ocorre no dia 28 – 14 = 14, já em um ciclo de 30
dias, a ovulação deve ocorrer no dia 30 – 14 = 16.
Os folículos ovarianos são as regiões funcionais dos
ovários, nas quais se encontram ovócitos I, estacionados na prófase I da meiose
I, revestidos por camadas de células. Esses ovócitos I são gerados durante o
terceiro mês de desenvolvimento intrauterino. O ovócito II liberado,
estacionado na metáfase II da meiose II, é a célula na qual o espermatozoide
irá penetrar, fazendo com que ela termine a meiose II e gere um óvulo (com o
espermatozoide dentro) e um corpúsculo polar.
Vejamos agora as funções dos principais hormônios envolvidos
no ciclo menstrual.
Hormônios
hipofisários:
São hormônios de natureza peptídica produzidos pela hipófise anterior (adeno-hipófise).
a) Hormônio estimulante dos folículos ovarianos (FSH – Follicle stimulating hormone): promove o desenvolvimento dos
folículos ovarianos no sentido de haver a liberação de um ovócito II. Durante
esse desenvolvimento, o ovócito I termina a meiose I, os folículos produzem
hormônios (veremos adiante), acumulam líquido, aumentam de tamanho e se
aproximam da superfície do ovário.
b) Hormônio luteinizante (LH – Luteinizing hormone):
promove a dissolução da parede do folículo e, com isso, a liberação de um
ovócito II (ovulação). O resultado disso é que o folículo ovariano se torna
aquilo que chamamos de corpo amarelo ou corpo lúteo (daí o nome luteinizante).
A ovulação ocorre então, graças à ação combinada desses dois
hormônios.
Apesar de o FSH e o LH atuarem em vários folículos, normalmente apenas um deles se desenvolve ao ponto de liberar um ovócito II. Caso haja a liberação e a fertilização de mais de um, podem ser gerados gêmeos dizigóticos.
Apesar de o FSH e o LH atuarem em vários folículos, normalmente apenas um deles se desenvolve ao ponto de liberar um ovócito II. Caso haja a liberação e a fertilização de mais de um, podem ser gerados gêmeos dizigóticos.
Hormônios ovarianos
(nesse contexto):
São hormônios esteroides (de natureza lipídica).
a) Estrógeno:
produzido pelos folículos ovarianos na medida em que se desenvolvem por
influência do hormônio FSH. O corpo amarelo também produz estrógenos. Esse hormônio promove o espessamento do endométrio. Detalhe:
“estrógeno” é um nome genérico para uma classe de hormônios, o estrógeno
específico nesse caso é o estradiol.
b) Progesterona:
produzida pelo corpo amarelo (ou corpo lúteo), que é o nome dado ao folículo
ovariano após a liberação do ovócito II. Promove a continuidade do espessamento
do endométrio, impede que ele descame e também impede que o útero se contraia. A progesterona é o hormônio
“pró-gestação” (o nome não significa isso, o prefixo pro é no sentido de inicial, anterior, assim como em "procarionte").
Posteriormente, caso haja gestação, a placenta também produz estrógenos e progesterona.
Posteriormente, caso haja gestação, a placenta também produz estrógenos e progesterona.
Na figura abaixo vemos um resumo sobre a ação e os alvos dos
quatro principais hormônios envolvidos no ciclo menstrual:
Na figura abaixo são resumidos os principais componentes e
eventos relacionados ao ciclo menstrual, considerando um ciclo de 28 dias, com
ovulação no 14º dia e no qual não houve fertilização:
A parte mais importante a ser entendida nessa figura é o
gráfico onde são mostradas as concentrações dos hormônios durante o
ciclo. Na primeira metade do ciclo, note que, na medida em que o FSH e o LH são
liberados a concentração de estrógeno sobe, pois os folículos vão se
desenvolvendo e produzindo esse hormônio.
Agora se segura aí que vai complicar. No geral, o estrógeno inibe a liberação de FSH
e LH, porém, Por motivos ainda não completamente entendidos, quando a concentração de estrógeno chega próxima do máximo, note
no gráfico que o efeito passa a ser o contrário e ele então promove um aumento
rápido na liberação do FSH e do LH, picos
na liberação desses hormônios. O pico na liberação de LH faz com que a ovulação
ocorra.
Após a ovulação, com o surgimento do corpo amarelo, a concentração de progesterona sobe, e muito, pois o corpo amarelo começa a
produzir esse hormônio (continua produzindo estrógeno também). Graças a ação da progesterona a
temperatura do organismo sobe cerca de 0,5°C. Correlacionado ao pico na liberação de LH a consistência de um muco
produzido por glândulas no colo do útero se torna mais líquida e
escorre. Esse muco tem consistência bastante viscosa. Ambas as coisas são bons
indícios de que a ovulação aconteceu e isso pode ser usado como contraceptivo
ou para auxiliar a mulher a engravidar, informando os melhores momentos para
evitar ou consumar o ato da cópula. Após o dia da ovulação, as concentrações de progesterona sobem bastante e isso está torna o muco cervical mais espesso, inclusive capaz de tampar a abertura do colo do útero e impedir a entrada de mais espermatozoides/esperma.
Na segunda metade do ciclo note que as concentrações de FSH
e LH descem após os picos de liberação e isso se deve ao fato de que a
combinação progesterona mais estrógeno inibe a liberação desses hormônios
(lembre-se do detalhe sobre o estrógeno, concentrações mais altas ainda desses
hormônios têm o efeito contrário). Mais próximo do final do ciclo menstrual as
concentrações de progesterona e estrógeno caem também, porque o corpo amarelo degenera. Acredita-se que a queda desses hormônios seja o fator responsável pelos
sintomas da síndrome pré-menstrual:
dores nas articulações, dores de cabeça, insônia, sensibilidade nas mamas e
vários outros. Por isso as mulheres ficam com o humor alterado e indispostas.
No final do ciclo menstrual as concentrações de todos os
hormônios estão baixas e isso causa a constrição das artérias do endométrio.
Por conta disso o endométrio espessado, que estava sendo mantido pela
progesterona, rompe, descama e é eliminado com sangue através da vagina: é a
menstruação, o primeiro dia de mais um ciclo menstrual.
Observações:
Tempos máximos de viabilidade dos espermatozoides e do ovócito II no
organismo feminino (quanto tempo essas células podem permanecer vivas e funcionais):
Espermatozoides: aproximadamente cinco dias.
Ovócitos II: aproximadamente 24 h (pode até durar ~48h).
Período fértil
feminino: é o período com a maior probabilidade de ocorrer a fertilização.
Pode-se admitir que vai dos dias 11 ao 17 do ciclo, baseado no tempo de
viabilidade dos gametas e possíveis alterações no dia da ovulação. Se você
mulher começar a menstruar hoje, hoje é o primeiro dia do seu ciclo menstrual.
Ciclos estrais: só os humanos e alguns outros primatas
passam por ciclos menstruais. Para a maioria dos outros mamíferos, o ciclo que
possuem é o estral, cujas diferenças principais são que, caso não haja fertilização,
o endométrio espessado é grandemente reabsorvido pelo útero então os fluxos
sanguíneos são reduzidos. Para um bicho no mato isso é muito bom, pois
economiza energia e nutrientes, além de não espalhar cheiro de sangue
sinalizando que é uma refeição. Além desse aspecto, normalmente os animais de
ciclo estral só copulam no período próximo da ovulação, o chamado cio, no qual
as fêmeas exalam odores que deixam os machos surtados.
Referências:
Amabis &
Martho. Biologia das Células. 3ª Ed.
Moderna. 2010.
Campbell, Reece et al. Biologia. 8ª Ed. Artmed. 2010.
Hacker, Gambone & Gobel. Hacker
and Moore’s Essentials of Obstetrics and Gynecology. 5th Ed.
Elsevier. 2009.
Linhares
& Gewandsjnajder. Biologia Hoje.
Vol 1. 2ª ed. Ática. 2013.