ECOLOGIA 06 - AS INTERAÇÕES ENTRE OS ORGANISMOS NAS POPULAÇÕES, COMUNIDADES E
ECOSSISTEMAS:
Maximiliano Mendes
Maximiliano Mendes
Características das populações nos ecossistemas:
Inicialmente, vejamos algumas
definições:
A população é um grupo de organismos pertencentes a uma mesma espécie
e que habita uma determinada região em um dado momento. Quando falamos em
evolução biológica, estamos nos referindo não ao indivíduo, mas sim às mudanças
nas frequências genotípicas que ocorrem nas populações ao longo das gerações,
ou seja, nesse sentido, são as populações que evoluem. As populações podem ser estudadas no tangente
à sua estrutura e composição, como qual é a proporção de machos e fêmeas, qual é
a idade predominante, qual área habita e outros aspectos. Também podemos
estudar as populações em termos da dinâmica, que é como ela varia ao longo do
tempo e das gerações.
Vejamos alguns desses aspectos
das populações:
Dispersão ou distribuição espacial: refere-se à maneira como os
indivíduos estão distribuídos, de maneira mais ou menos uniforme, em uma área
ou volume (neste caso, pense nas populações de organismos aquáticos).
Densidade: refere-se ao número de indivíduos em relação à alguma
unidade de área ou volume (Densidade populacional = Número de indivíduos / Área
ou Volume). A densidade pode ser afetada
por alguns fatores:
Taxa de natalidade: taxa na qual mais indivíduos vão sendo
adicionados à população por unidade de tempo, como por exemplo, uma taxa anual.
Essa taxa tende a ser maior, quanto mais recursos e espaço houver. Também
depende da idade dos indivíduos da população, pois, se num dado momento a
população apresenta grandes números de indivíduos jovens, a taxa de natalidade
tende a ser maior.
Taxa de mortalidade: taxa na qual os indivíduos morrem e são
eliminados da população, por unidade de tempo. Essa taxa tende a ser maior
quanto menos espaço e recursos hão, ou seja, quanto maior a competição. Além
disso, se nascem muitos indivíduos, há também mais indivíduos para morrer, promovendo
o aumento na taxa de mortalidade. A taxa de mortalidade também pode ser
influenciada por fatores físicos como as catástrofes naturais: as secas
severas, os incêndios, as inundações e outros. Mesmo que haja espaço e
recursos, uma catástrofe pode vir a eliminar grande parte de tudo isso,
causando a morte de muitos indivíduos.
Taxas nas dispersões dos indivíduos (imigração e emigração):
Taxa de imigração: número de indivíduos que imigram para a
população, aumentando o seu número.
Taxa de emigração: número de indivíduos que emigram da população,
diminuindo o seu número.
Normalmente, são os indivíduos
mais jovens que dispersam das populações e esse processo é importante, pois
pode evitar a extinção de uma espécie que parte para outra região a fim de
sobreviver e também para aumentar a variedade genética das populações,
atenuando os efeitos dos cruzamentos consanguíneos.
De maneira simplificada, o
crescimento populacional pode ser definido da seguinte forma:
CP = (TN + TI) – (TM + TE).
Crescimento populacional =
(taxa de natalidade + taxa de imigração) – (taxa de mortalidade + taxa de
emigração).
A estrutura etária de uma
população pode ser representada por meio de gráficos chamados pirâmides etárias. Esses gráficos permitem
visualizar os números de machos e fêmeas em uma população e também quais são as
faixas etárias predominantes. Essas “pirâmides” nem sempre têm o formato de
pirâmide, ou formato triangular, mas quando têm, com a base larga e o topo
estreito, indicam que os números de jovens são maiores que os dos idosos e
adultos, logo, a população pode estar em crescimento. Normalmente são diagramas
que vemos se referindo às populações humanas.
Além dos mencionados, também
podemos elencar outros fatores que influenciam na densidade populacional:
Os números de machos e fêmeas na população: de maneira geral,
quando o número de um dos sexos na população é reduzido o crescimento é
limitado, especialmente se a redução for no número de fêmeas. Um motivo
importante que pode diminuir os números de machos ou fêmeas numa população é a
caça por troféus (é, os humanos são bichos idiotas mesmo), como exemplo, as
presas maiores dos elefantes machos. Inclusive, já há populações de elefantes
com indivíduos machos sem presas, uma boa ilustração de como certas pressões
seletivas podem influenciar a evolução de uma população.
Damos o nome de potencial biótico à capacidade que uma
população tem de crescer em condições ideais, sem a chamada resistência ambiental. Nessas condições
imaginárias, a população poderia crescer indefinidamente. Na natureza,
normalmente as populações não podem crescer de acordo com o seu potencial
biótico, justamente por conta da resistência do meio, que se deve a um conjunto
de fatores, como a escassez de recursos, a competição, predação e o parasitismo
e até as catástrofes naturais. Quanto mais a população aumenta de tamanho,
maior é a resistência do meio. Se o meio não oferecesse resistência o
crescimento da população seria exponencial. Damos o nome de capacidade limite ou capacidade de suporte
do meio (k) ao número máximo de indivíduos que ele pode suportar. Se a taxa de
crescimento excede a capacidade limite, ela decresce de maneira a reduzir o
número de indivíduos para próximo do valor de k.
Essas características podem
sofrer alterações na medida em que, ao longo do tempo, as comunidades mudam no
ecossistema (é o que chamamos sucessão ecológica, assunto a ser visto
posteriormente).
Analisando as imagens, vemos
que inicialmente o crescimento é lento, por conta do número baixo de
indivíduos, mas em seguida ele se torna similar ao exponencial até que, por
conta da resistência do meio, é limitado e se estabiliza.
Considerando a população
humana do planeta, os dados indicam que em 1950 havia 2,5 bilhões de habitantes
e em 2011, 7 bilhões. A previsão para 2050 é de que chegue a 8,9 bilhões. Esse
crescimento é em grande parte devido aos avanços nas ciências médicas, que
acarretaram em uma grande redução na taxa de mortalidade. Também se acredita
que atualmente a população humana já consuma aproximadamente 42,5 % acima da
capacidade de reposição de recursos do planeta e que o déficit aumente
aproximadamente 2,5 % a cada ano. Infelizmente, quanto maior o número de
humanos, maiores e mais frequentes são os possíveis desequilíbrios ecológicos
que podemos causar. É um problema sério e difícil de resolver.
Podemos classificar as
interações entre os organismos da comunidade de acordo com dois critérios:
Interações intra-específicas: ocorrem entre indivíduos da mesma
espécie na mesma população.
Interações inter-específicas: ocorrem entre indivíduos de espécies
diferentes na mesma comunidade.
As interações acima ainda
podem ser classificadas como:
Harmônicas: os organismos que interagem não sofrem prejuízo.
Desarmônicas: pelo menos um dos organismos envolvidos na interação
sofre algum tipo de dano ou prejuízo.
Vejamos então alguns exemplos
dessas interações:
Interações intra-específicas e harmônicas:
Sociedade: os indivíduos de uma mesma população são separados
anatomicamente e cooperam uns com os outros vivendo juntos, em uma sociedade
com divisão de trabalho. Exemplos: os insetos sociais, como as formigas, cupins
e abelhas e as suas respectivas organizações em formigueiros, cupinzeiros e
colmeias. Uma sociedade humana é similar, mas se deve apontar o detalhe de que,
apesar de cada indivíduo exercer um papel na sociedade, podemos considerar que
as diferenças morfológicas são irrelevantes quando comparamos a nossa espécie
com as abelhas, por exemplo, pois não temos algo como “humano operário” e
“humano rainha”. Os seres humanos são mais do que 99 % iguais geneticamente.
Colônia: difere da sociedade, pois os organismos são unidos
fisicamente. Pode ou não haver organismos individuais com funções
especializadas:
Colônias isomorfas: os
organismos constituintes da colônia têm morfologia similar. Exemplo: os corais.
Colônias heteromorfas: Nem
todos os organismos têm morfologia similar. Algumas células podem ser
responsáveis pela nutrição, outras pela reprodução, outras atuam na defesa da
colônia e etc. Exemplo: caravela-portuguesa (Physalia physalis).
Intra-específicas e desarmônicas:
Canibalismo: um indivíduo da população mata o outro para se
alimentar. Por exemplo, dependendo da situação, os ratos fazem isso uns com os
outros.
Competição intra-específica: os indivíduos da mesma população
competem uns com os outros em graus variados, dependendo da quantidade de
recursos disponíveis no meio. Eles podem competir por espaço, alimentos,
parceiros reprodutivos e etc. Normalmente, quanto maior for a densidade
populacional, mais competição haverá. Além disso, quanto mais fragmentado for
um ecossistema, nos fragmentos a tendência é que a densidade populacional
aumente, promovendo mais competição.
Inter-específicas e harmônicas:
Mutualismo: os indivíduos associados fisicamente se beneficiam e
dependem uns dos outros para sobreviver. Exemplos: os líquens, associações
entre as algas e os fungos nas quais as algas produzem matéria orgânica via
fotossíntese e os fungos lhes fornecem um ambiente adequado com água e
nutrientes. Outro exemplo é a associação entre os cupins e os protozoários que
vivem nos seus aparelhos digestórios, auxiliando na sua digestão e obtendo
abrigo.
Protocooperação: os indivíduos se beneficiam, mas podem viver
separados fisicamente uns dos outros. Exemplos: o caranguejo eremita e as
anêmonas, ambos podem viver de maneira independente. Os pássaros que se
alimentam dos parasitas nas costas dos búfalos são outro exemplo.
Inquilinismo: um indivíduo se beneficia nutricionalmente ou adquire
proteção ao viver sobre outro sem prejudicá-lo. Exemplo: o epifitismo entre as
orquídeas e as árvores.
Comensalismo: um organismo se aproveita de algo que outro, de outra
espécie, pode lhe prover não intencionalmente, sendo que a espécie provedora
não é prejudicada. Alguns exemplos: um animal pode aproveitar os restos
alimentares de outro, sem prejudicá-lo, como é o caso dos peixes pilotos e os
tubarões. Ou então, um animal pode usar outro para auxiliar na sua locomoção,
como ocorre com as rêmoras grudadas aos tubarões. (Falando assim, parece até
que os tubarões são prestativos...).
Inter-específicas e desarmônicas:
Amensalismo: os indivíduos de uma espécie produzem e liberam no
meio substâncias que inibem o desenvolvimento ou a reprodução de outras
espécies. Exemplos: fungos que produzem antibióticos e as marés vermelhas,
fenômeno onde algas como as do grupo das dinoflageladas se multiplicam em
resposta ao enriquecimento da água e liberam toxinas na água do mar.
Predatismo: um indivíduo captura e mata outro, de outra espécie,
para se alimentar. Caso o alimento seja uma planta, fala-se em herbivoria. Esse tipo de interação
permite que as populações de predadores controlem os números de indivíduos das
populações das presas e, em contrapartida, os números de presas controlam os
números das populações de predadores.
Parasitismo: um organismo habita no corpo de outro, dentro
(endoparasita) ou fora (ectoparasita), e dele retira o seu alimento sem matá-lo
em curto prazo. O parasita pode consumir sangue, outros tecidos ou parte do
alimento obtido pelo hospedeiro. Os piolhos, as amebas e as lombrigas são
exemplos de parasitas. Geralmente os parasitas são mais especializados do que
os predadores e isso inclusive tem relevância no tocante ao controle biológico
de pragas: é mais eficiente utilizar um parasita do que um predador, pois o
predador pode promover mais desequilíbrio ao se alimentar de mais de um tipo de
organismo.
Competição inter-específica: ocorre quando os nichos de duas
populações são similares, então elas disputam os mesmos recursos.
Sobre a simbiose (“vida juntos”): ela é um tipo de interação na qual há uma
associação estável e com contato físico entre organismos de espécies
diferentes. A simbiose pode ser harmônica ou não. Exemplos de interações
simbióticas são o mutualismo (+,+ - os dois organismos se beneficiam), alguns
casos de comensalismo (+,0 – um organismo se beneficia e o outro nem se
beneficia e nem é prejudicado) e o parasitismo (+,- - um organismo se beneficia
e o outro é prejudicado).
Os efeitos dos fatores ecológicos nos organismos:
Os fatores ecológicos são o
conjunto dos fatores bióticos e abióticos de um ecossistema. Esses fatores
podem afetar o desenvolvimento dos organismos, pois, dependendo do fator e de
sua intensidade, ele pode impedir ou promover o desenvolvimento e a presença de
uma espécie. O motivo, em resumo, é que os organismos apresentam tolerância às condições ambientais,
eles conseguem suportar algumas alterações. No entanto, se um fator qualquer,
como a temperatura, tem a sua intensidade aumentada ou diminuída de maneira
extrema, uma determinada espécie pode não ser capaz de tolerar esses extremos.
Tome por exemplo, uma espécie qualquer de lagarto que viva em condições
tropicais. Caso esses lagartos sejam submetidos a temperaturas abaixo ou acima
das mínimas e máximas anuais, essas condições podem promover o estresse e
afetar negativamente o desenvolvimento e a reprodução dessa espécie.
Podemos dizer que, se um fator qualquer dificulte ou impeça
a sobrevivência de uma espécie, esse é um fator
limitante. Alguns exemplos são a disponibilidade de água e a umidade do ar,
a intensidade luminosa, que pode afetar as taxas de fotossíntese e a regulação
dos ciclos de sono e vigília, as temperaturas, que, em condições extremas
afetam grandemente o metabolismo dos organismos ectotérmicos e, como exemplo de
fator biótico, a disponibilidade de alimentos.
REFERÊNCIAS:
As referências básicas dessa série sobre ecologia são:
Thompson, M. & Rios, EP. Conexões com a Biologia. Vol. 1. Moderna. 2ª ed. 2016.
Townsend, CR., Begon, M., Harper, JL. Fundamentos em Ecologia. 3ª ed. Artmed. 2010.
Urry, LA. et al. Biology. 11th ed. Pearson. 2016.
Lopes, L. & Rosso, S. BIO: Volume Único. Saraiva. 3ª ed. 2013.
As restantes serão informadas na parte final sobre esse assunto.