O REINO FUNGI
Características
gerais:
Reino constituído
por seres vivos que vivem fixos a um substrato e, apesar de superficialmente aparentarem semelhança com algumas plantas, os fungos são mais proximamente
relacionados aos animais, pois possuem parede celular constituída
de quitina (ao invés de celulose) e utilizam o glicogênio como
reserva energética (ao invés do amido).
Imagem mostrando
as relações filogenéticas dos fungos em relação aos animais.
São:
Eucarióticos.
Heterótrofos.
(Apesar de haver controvérsia sobre alguns fungos capazes de realizar a
radiosíntese).
Unicelulares
(leveduras) ou pluricelulares (cogumelos e orelhas de pau).
Podem ter reprodução
agamética ou gamética.
A digestão ocorre fora do corpo, pois o fungo libera enzimas no meio e depois absorve os nutrientes do meio.
O corpo dos fungos
é constituído por filamentos chamados hifas. Ao conjunto de hifas dá-se o nome
micélio (não é um tecido nem um órgão).
O corpo dos
fungos, formado por diversas hifas (os filamentos).
As hifas podem
ser:
Septadas: cada
célula da hifa é delimitada por um septo (parede) incompleto, ou seja, há
continuidade citoplasmática entre as células.
Cenocíticas: não
há septos ou qualquer parede delimitando as células da hifa. Cada hifa é um
tubo contínuo preenchido por citoplasma e núcleos.
Hifas septadas e
hifas cenocíticas.
O micélio pode
ser:
Vegetativo: composto
por hifas imersas em um substrato (como um pão velho, por exemplo). Essas hifas
podem se estender por grandes distâncias dentro do substrato, por exemplo, o
maior organismo que existe é um fungo, Armillaria ostoyae, de mais
de 3000 anos de idade, cujos filamentos estendem-se por 6×106 m2,
no estado de Washington, EUA.
Hifas de fungos sob
o solo.
Reprodutor: constituído
por hifas capazes de produzir esporos, que geralmente se desenvolvem
externamente ao substrato. Em alguns casos pode ser chamado de corpo de
frutificação (é o cogumelo propriamente dito).
Cogumelo Amanita muscaria. O cogumelo é o corpo de frutificação, um tipo de micélio reprodutor. Esse fungo produz substâncias com efeito alucinógeno.
Assim como as
bactérias, os fungos saprofágicos vivem sobre a matéria orgânica em
decomposição, obtendo dela as substâncias que lhes servem de alimento. Eles
podem atuar como decompositores da matéria orgânica, devolvendo os
elementos químicos para o meio ambiente na forma de compostos simples que podem
ser utilizados por outros organismos (como o CO2, NH3,
PO4-3 e etc.).
A nutrição dos
fungos é heterótrofa e a digestão é extracorpórea. Os fungos
liberam enzimas digestórias no meio e depois absorvem as substâncias
resultantes dessa digestão.
Fungos atuando como decompositores.
Os fungos podem se
associar de forma simbiótica com outros organismos:
Liquens: associação
entre fungos e algas (ou fungos e cianobactérias) encontradas em trocos de
árvores ou em rochas. A alga, por ser autótrofa e fotossintetizante, fornece
nutrientes para o fungo, ao passo que o fungo envolve as algas com as suas
hifas e fornece para elas um ambiente úmido e compostos inorgânicos simples.
Reproduzem-se por meio de estruturas propagativas chamadas sorédios, que
consistem em algas envoltas por hifas dos fungos. Os líquens não conseguem
viver em regiões poluídas, sendo assim, a ausência de líquens em determinados
locais é um indicativo de baixa qualidade ambiental. A maioria dos fungos que
formam líquens são do grupo dos ascomicetos, o mais numeroso. OBS: alguns
estudiosos não consideram os líquens como um tipo de mutualismo, mas sim como
um exemplo de parasitismo, do fungo parasitando as algas. Tome-lhe plot twist.
Líquens no tronco de uma árvore.
Micorrizas (“raízes
que contêm fungos”): associação mutualística entre fungos e raízes de plantas
na qual as hifas do fungo invadem as raízes da planta. Os fungos obtêm
nutrientes da planta, que é autótrofa e fotossintetizante, ao passo que
auxiliam a planta a absorver água e minerais escassos no solo. Além disso, as
plantas conseguem produzir substâncias sinalizadoras em reposta aos ataques de
patógenos e herbívoros e transmitir essas substâncias para outras plantas
através dos fungos, de maneira que as vizinhas possam produzir substâncias de
defesa em tempo. Estima-se que mais de 90 % das espécies de plantas vasculares formem
micorrizas (pteridófitas, gimnospermas e angiospermas).
Micorrizas. As hifas verdes estão fazendo a comunicação entre as duas árvores.
Classificação
De forma geral, o
nome do grupo é baseado no nome da estrutura produtora de esporos, dentre os
principais grupos estão:
Grupo |
Características |
Cythridiomycota |
Unicelulares ou filamentosos
(hifas cenocíticas). Predominantemente aquáticos. São os únicos que
apresentam flagelos em algum estágio do ciclo de vida. |
Zygomycota |
Hifas cenocíticas. Formam
esporos sexuados chamados zigósporos. Não possuem corpo de
frutificação. São saprofágicos. Podem ser utilizados na produção do molho de soja shoyu, e na produção de medicamentos anti-inflamatórios e contraceptivos. Formam micorrizas. Exemplos: Rhizopus, o bolor
negro do pão. |
Ascomycota |
É o grupo com o maior número
de espécies. Hifas septadas. Formam esporos sexuados chamados ascósporos, em
hifas especializadas chamadas ascos. Algumas espécies formam corpo de
frutificação (ascocarpo). Formam liquens. Exemplos: Leveduras (como a Saccharomyces
cerevisiae, usada na fabricação de massas e bebidas alcoólicas). Trufas (fungos saprofágicos
do gênero Tuber que formam micorrizas e são apreciados na culinária). Penicillium sp., que produzem o antibiótico penicilina. Dos grãos de centeio
infectados por Claviceps purpurea obtêm-se o ácido lisérgico (usado na
fabricação do LSD – dietilamina do ácido lisérgico) e a ergotina. Ambos os
compostos são alucinógenos. Aspergillus flavus crescem em amendoins e produzem toxinas
cancerígenas chamadas aflatoxinas. Penicillium roquefortii e P. camembertii são usados na produção
de queijos. |
Basidiomycota |
Hifas septadas. Formam
esporos sexuados chamados basidiósporos em hifas especializadas chamadas
basídios. Alguns são utilizados como alimento. Também podem formar
micorrizas. Algumas espécies formam corpo de frutificação (basidiocarpo: cogumelos
e orelhas-de-pau). Exemplos: Champignons e shitake, utilizados na alimentação
humana. Amanita muscaria e A. phalloides produzem a substâncias
tóxicas e alucinógenas. Psilocybe sp. produzem a psilocibina, substância alucinógena. |
Deuteromycota |
Reúne fungos sem
classificação definida, nos quais não se conhecem processos sexuais de
reprodução. É uma categoria de conveniência. |
Importância e
utilização:
Os fungos
saprofágicos atuam como decompositores da matéria orgânica,
devolvendo elementos químicos para o meio na forma de compostos simples, que
podem ser utilizados por outros organismos, como já visto.
Alimentação, como
os basidiomicetos: como exemplos temos os champignons e o shitake.
Preparação
de alimentos fermentados: fazem as massas como as dos pães crescer, graças
ao processo de fermentação alcoólica, que libera CO2 na massa.
Utilizados na produção de bebidas alcoólicas e laticínios.
Alguns
produzem antibióticos (ex: penicilina) e toxinas importantes
(ex: aflatoxinas – produzidas por fungos do gênero Aspergillus que
se desenvolvem em amendoins).
Alguns são
parasitas de humanos, causando micoses, e outros são parasitas de culturas
vegetais importantes para a agricultura, como a vassoura de bruxa, parasita do
cacau, que podem causar grandes prejuízos. O fungo Candida albicans é
o causador da candidíase, infecção
sexualmente transmissível.
Algumas drogas
alucinógenas como a psilocibina e a dietilamina do ácido lisérgico (LSD) são
procedentes de fungos.
Alguns fungos, como os Cordyceps (Ophiocordyceps) são parasitas que podem controlar o comportamento dos animais que infectam, de maneira que o comportamento do animal infectado facilita a dispersão de esporos fungais. Há indícios de que esses fungos podem ser usados no tratamento de doenças respiratórias como a asma e a bronquite, pois podem produzir substâncias antiinflamatórias e modular a atividade do sistema imunitário.
Cordyceps infectando um grilo. Veja os micélios reprodutivos.
Alguns fungos,
como os que habitam a localidade de Chernobyl, na Ucrânia, têm grandes
quantidades de melanina e se acredita que possam aproveitar a energia
proveniente da radiação residual do acidente ocorrido em 1986 em reações
capazes de convertê-la em energia química: é a radiosíntese, que converte a energia da radiação ionizante em energia potencial química.
Referências:
Livros de biologia
do ensino médio da Sônia Lopes e Amabis, várias entradas sobre o assunto na
Wikipedia e Britannica e nos links das imagens.